sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Né brinquedo não...

Tirei uma tarde desta semana para fazer panetone com duas amiguinhas: a Isa, de 5 anos, e a Ana, de 7.

Depois que pusemos a cozinha abaixo, enquanto os panetones - marcados com a inicial do nome de cada uma, para que pudessem merecidamente dizer "fui eu quem fez" - assavam, as duas começaram a xeretar as tretas da minha casa, que, diga-se de passagem, é um pratão pra crianças.

Aí toparam a parede preta escrita de giz. Minha amiga Debinha desenhou uma grande árvore de Natal e as pessoas foram escrevendo seus desejos. Até então, apenas adultos.

As duas pediram giz e eu disse que queria que escrevessem o que queriam de mais legal para o Natal e Ano Novo. "Mas não pode escrever coisa do tipo 'quero um brinquedo'. Pensem em algo diferente".

Enquanto eu tirava os panetones, elas escreveram e eu não tive tempo de ler. Depois de irem embora, finalmente fui ver. A Isa escreveu "Feliz Natal para todos". Já a Ana, capetinha, colocou "Eu queria uma guitarra"...
Enfim, guitarra na mão de moleque de sete anos realmente não é brinquedo.

Um Natal cheio de ternura e bom humor pra nós todos.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Onde a gente tem o nariz



Estava ali molhando minhas flores e pensando em como, mais uma vez, este ano passou rápido. Pisquei os olhos e já é hora de pensar no ano que vem. Nos anos que vêm. No que os anos vêem.

Pensar no que fizemos. No que não fizemos. No que poderíamos ter feito. No que faríamos diferente.

Nesse ponto, um velho problema dos negócios se repete na vida.

Muitas vezes a gente vai fazer uma pesquisa ou montar um planejamento e vai seguindo as etapas, sem se perguntar: "qual é a pergunta a que eu quero responder? O que eu preciso saber?". Ou "qual é o objetivo da minha empresa? Aonde eu quero chegar?".

Muuuuuuuuito complicado responder isso. Talvez seja o maior desafio de todo o processo. Mas, se a gente não "cola" no cliente para obter essas respostas, todo o trabalho fica solto, sem liga, sem sentido. Como você vai saber que chegou lá, se não sabe onde é lá? Ou vai fazer todo esse esforço simplesmente para sobreviver?

Na vida também é assim. Às vezes a gente se pega trabalhando como um louco, sem tempo para mais nada. Se chegasse aqui um marciano e perguntasse "mas você trabalha pra quê?", a gente responderia "pra ganhar dinheiro". "Mas ganhar dinheiro pra quê?" "pra comprar as coisas que eu quero e preciso". "E pra quê?". "Oras, pra ficar mais feliz, pra ter qualidade de vida". "E o que é qualidade de vida?" "Ah, é conviver com minha família, poder ter conforto, me divertir...".

Nesse momento, provavelmente, o marciano coçaria a cabecinha, olharia na sua cara e diria "devo deduzir que essa vida que você leva está te proporcionando isso?"

...
...
...
...

Silêncio ensurdecedor.

É. Não tem mesmo vento favorável pra quem não sabe aonde quer ir. Ir vivendo a vida, simplesmente, não vai mostrar o caminho. Não adianta reclamar que as coisas não acontecem como a gente gostaria, se a gente não sabe do que realmente gosta. E isso não vale apenas para o trabalho. Permeia tudo: amigos, amor, família.

Agora é hora de pensar: eu sei aonde quero ir? E o principal: "com o que faço no dia-a-dia, eu estou andando nessa direção?".

O primeiro passo para realizar um sonho é se permitir sonhar.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sunshine

Ontem eu estava baixando umas músicas do Light House Family e, de repente, encontrei uma que eu não procurava; ela me achou.

É a trilha da cena mais linda de um filme que me emociona tantas vezes quantas eu assisto. Dura pouco mais de um minuto e mostra as estações passando, enquanto o personagem caminha pela rua.

O mais legal é que a cena não tem cortes. Ou seja: ele passa pelas pessoas, pelas estações, veste o casaco, se protege da chuva e da neve, tira o casaco... mas continua o mesmo.

Como acontece na cena, essa música, escrita nos anos setenta, passa pelo tempo, se modifica, mas continua linda. Como acontece também na vida. Coisas que passam pelo tempo, esfriam, esquentam... e continuam lindas.


domingo, 28 de novembro de 2010

Super Amigos




Muita gente vem à minha casa e implica que precisa ajudar a lavar as vasilhas. Acho que as pessoas pensam "coitada, já cozinhou tanto, agora tem também que lavar a louça...".

De tanto ouvir as pessoas implicarem, e de tanto brigar com elas e bater o pé, resolvi contar a verdade.

Quando eu era pequena, lá pelos quatro anos, meu pai tinha um amigo chamado Idalmo. Seu Idalmo era um sujeito muito simpático, que me dava uma atenção impressionante - nessa idade eu já falava pelos cotovelos.

Ele morava na casa dos meus sonhos. Na verdade era um castelo. E ficava me contando que, dentre outras maravilhas, no castelo morava uma fada: a Sá Fada (em Minas, Sá é uma abreviatura de Sra.). Além disso, as torneiras do banheiro deixavam sair coca-cola e guaraná, ao invés de água.

A casa do Seu Idalmo era mesmo tudo de bom. Tanto que eu resolvi que, quando eu crescesse, queria ter uma dessas. Por isso fui tratando de fazer amizade com pessoas interessantes; gente que eu gostaria que frequentasse minha futura casa. Por exemplo, o Super Homem, o Homem Aranha, o Coelhinho da Páscoa (para quem presto serviços em regime de outsourcing todo ano). E, logicamente, o Papai Noel.

Então. Todos os meus amigos menores de dez anos sabem que esse pessoal vive aqui em casa. Não o tempo todo, porque são famosos, porém tímidos, e não gostam de ficar se exibindo.

E todos têm uma coisa em comum: adoram picar cebolas e lavar louça!

Por isso, se você vier aqui em casa, fique tranquilo e aproveite. Quem picou a cebola não fui eu, nem sou eu quem vai lavar a louça!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Buquê

"Irmãzinha, você faz o meu buquê?"

Senti uma honra, uma emoção quando minha irmã me disse aquilo. Maior do que quando fui convidada para ser madrinha.

Era um pouco óbvio que eu seria madrinha, né... a única irmã da noiva. Mas receber a responsabilidade de fazer o buquê, as flores que acompanhariam aquela princesa de conto de fadas ao altar... era bonito demais.

Como bonita demais ficou a noiva. Como bonito demais foi ver aquela igreja enorme simplesmente lotada. Como bonito demais foi ver o Dani totalmente sem chão, balbuciando uma declaração de amor surpresa que brotava diretamente do coração. Como bonito demais foi ver meu pai saindo de fininho e, de repente, sua voz de tenor inundando a igreja em uma Ave Maria, que se transformou em uma salva de palmas e de lágrimas felizes.

Bonito demais também foi ver a alegria descontraída dos noivos, dançando a coreografia cuidadosamente ensaiada e brega do Sidnei Magal ao invés de uma valsinha careta. E ver uma festa simples, mas perfeita. Sem nenhum estresse, sem nenhum chilique. Perfeita.

Que este conto de fadas que começou no sábado seja assim, como as flores do buquê: perfeito em sua simplicidade, cheio de perfume, pleno de luz.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Verdades sobre a mentira

Custa falar a verdade?

Ah, custa. Muito. Pode custar uma amizade. Um amor. Um emprego.
Mas o interessante é que o preço da verdade não é custo. É investimento. O que você paga por dizer a verdade volta com juros e correção, enquanto o que a mentira cobra é definitivo.


Se a gente diz a verdade, corre o risco de magoar alguém. Pode afastar um amigo. Mas existe a possibilidade de que um dia ele valorize a verdade e volte.


Se mente, não tem risco: vai magoar na certa. A mágoa da verdade passa, a da mentira permanece. Faz um furo na alma.

Mesmo que a mentira não seja descoberta, ela se instala por ali, na alma de quem mente e passa a ocupar espaço, confortavelmente. Acorda a gente à noite, sobressalta de dia, acaba com uma festa... e o pior: vai se reproduzindo. Começa a gerar mentirinhas, que também vão se acomodando, e, quando a gente vê, já tomaram conta da casa.

A verdade não sai barato. Mas a mentira cobra aluguel.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Minhas flores de outubro


Duas flores.
Cores e perfumes totalmente diferentes.
Encantos parecidos.
Duas mães totalmente dedicadas. Mães dos filhos, mães dos netos, mães dos sobrinhos, dos amigos.
Duas pessoas que eu nunca, em anos de convivência, encontrei sem ganhar um largo sorriso.

Quantas tempestades essas flores enfrentaram... o caule curvado deixava parecer que cairiam... mas mal o sol saiu, elas voltaram ainda mais fortes.

Quantas vezes essas flores enfeitaram e perfumaram meus dias! Com um conselho, com um carinho, com um sorriso. Com a arte de conciliar a delicadeza de sua alma e de seu toque com uma força absurda, que faria um exército sucumbir.

Hoje é o dia de oferecer flores às flores. Que este dia seja exatamente como vocês: lindo, cheio de cores e perfume, pleno de luz, amor, sorrisos e carinhos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Saga da Madrinha




Ufa, até que enfim. Como foi duro conquistar este convite.


Todo mundo convidado. Foto no site. Menos eu. Pensei que nunca conseguiria ser madrinha deste casamento.


Oito anos sonhando. Depois, 27 babando. Paparicando. Mimando. Defendendo. Rosnando, quando era o caso. Morrendo de rir. Morrendo de chorar. Ganhando colo. Dando colo. Fazendo cafuné. Fazendo comidinhas. Bebendo cervejinhas. Lendo e escrevendo cartinhas. Trazendo quilos de Lindor. Comprando bugiganguinhas. Aprendendo muito a cada dia. Ensinando a cozinhar.


Desses 27, três rindo com o cunha. Quebrando tudo no sítio. Chaveirando com a Fi. Fazendo e tomando desaforo do Paulo. Ganhando fubá e carambola. Fofocando todas e colando a barriga no fogão com a Mari. Paparicando as filhotinhas. Tomando umas na Cidade Nova. Admirando as fotos. Conhecendo o apê. Dando pitaco. Não conseguindo conter o sorriso de felicidade ao ver a paixão da minha vida feliz, com um cara legal, astral, querido, gente boa, do bem.


Pensa que acabou? Nada... ainda não tinha conseguido o posto! Hum, noites apanhando do Corel. Coraçõezinhos verdes. Escovinhas de dentes. Um milhão de lacinhos. Letrinhas pra todos os lados. Cortando canequinhas com estilete (ai, minhas costas!).


Nada. Minha foto ainda não estava no blog.


Quando eu ia desistindo... um último sacrifício. Piquenique no Parque das Mangabeiras. Eu, Mari, Dani e Val, olhando a montanha. Suco, cerveja, espumante. Toalha xadreza e formigas. Mil guloseimas. Fotos antigas, cartinhas, lembranças. Lágrimas de alegria.


Quanto sofrimento. Consegui! Sou madrinha.

domingo, 3 de outubro de 2010

Mentira do Tiririca



Duas da manhã. Minha irmã é despertada por uma mensagem de candidato pedindo voto. Meu pai passou a última semana recebendo telefonemas com gravações dizendo “Oi, eu sou fulano, vote em mim”...

Fico pensando em quem foi o geninho que teve essa ideia mirabolante. O celerado que pensou que nos faria votar em um candidato depois de sermos invadidos em nossa privacidade por uma gravação imbecil. O legume que comprou de alguma empresa, também legume, criminosamente, sem autorização, a listagem de celulares de eleitores.

Pensar nisso me faz ter vergonha quando me perguntam em que eu me formei. Eu não sou contra propaganda política - ao contrário: acho que o cidadão tem o direito de conhecer os candidatos de maneira limpa e aberta. O que tenho medo é de ser comparada a certos mestres de marionetes de quinta categoria que ainda vivem no século passado e envergonham os colegas de profissão, subestimando as pessoas e achando que conseguem manipulá-las.

Provavelmente celerados desse tipo também trabalham para candidatos menos esclarecidos, que ignoram a lei e hoje emporcalharam mais uma vez a rua com suas caras feias em santinhos. Tomei o cuidado de catar cada papelzinho vagabundo e transcrever aqui os nomes de quem não entende o significa proibição de boca de urna: ESTADUAIS: João Vitor Xavier, Gustavo Valadares, Luiz Humberto Carneiro, Salim e Fábio Avelar (que ainda tem a cara de pau de dizer no slogan que defende o meio ambiente). FEDERAIS: Tibé e Rogério Fernandes.

A propósito, o plantão do Chili 15 milhões de unidades Scoville* informa: Reginaldo Lopes, presidente do PT em Minas Gerais, acaba de ser preso em flagrante por fazer boca de urna. Ficará preso até o final da votação.

E aí, Tiririca, será que pior do que está não fica???


* A escala de Scoville mede a ardência da pimenta. 15 milhões de unidades é capsaicina pura.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ipês do Cerrado




A noite linda de lua cheia, encomendada para mim, não deixava ver o marrom da seca no planalto central. Eram quase onze, mas parecia que estava anoitecendo, de tão claro o céu.

De cima, vi as luzes na Esplanada, o parque todo iluminado. Um vôo panorâmico que parecia um presente. Meu coração se alegrou. Algo me dizia que Brasília me surpreenderia.

Três dias de encontros, reencontros. Encontros esperados, encontros inesperados, ansiados.

Incrível como até mesmo os velhos amigos sempre me surpreendem e encantam. O carinho sempre ultrapassa a expectativa. A dupla infalível CarolCami, Moniquinha com sua princesa sonhando um soninho de anjo, a doçura cada vez mais doce da Rafa, almoços, chopes, presentes, risadas, abraços carinhosos. A sala que me acolheu com tanto carinho, os colegas que hoje me recebem como se eu nunca tivesse saído.

O almoço no The Gong que virou café na Cobogó e quase entrou pela noite. A noite no Rayuela. O depois da noite. Redescobertas maravilhosas, brilho nos olhos.

De repente me dei conta de que eu não vi a seca. A seca não existiu neste finde. Apenas os ipês floridos.

Curioso como me senti em casa, mais ainda do que quando morava lá.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Deu blog




Engraçado isso.


Há vários dias eu tenho me cobrado. Será que não tem nada pra escrever? Ou será que o que tem pra escrever não vale escrever?

Talvez.

Ontem, ao fim do dia, eu disse à Fê: vai dar blog.

Deu vontade de escrever. Sobre o dia cheio de histórias, de presentes, de ausentes presentes.

Ontem foi o dia nacional da cumplicidade. De manhã à noite. Desde a caminhada ouvindo os mil casos de Portugal, França, Itália, pessoalmente e por email, passando pelo almoço, litros de café, até a coxinha de jacaré, o telefone liga-desliga atrapalhando o debate.

Quem esteve comigo ontem, fisicamente ou não, sabe do que eu estou falando.


É bom ter vocês de volta, cada um à sua maneira. É gostoso, é divertido, enche o dia de alegria.

Cumplicidade não é necessidade. É desejo. Dá até para viver sem. Ou sobreviver, talvez. Mas a vida ganha outro gosto quando a gente divide os sonhos, diminui as tristezas, soma as forças e multiplica as alegrias.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Frida Kahlo



Ela tem bigodes e sobrancelhas grossas como quem deu origem ao seu nome. A diferença é que são branquinhos.

A carinha terna deste presente, o mais inesperado entre tantos em um aniversário mágico, esconde uma personalidade que, em poucos dias, já se mostra forte como a da artista.

Adoro dar nome de gente a bicho, mas este tem um motivo especial. Além de ter sido uma artista incrível, cheia de personalidade e ousadia, a história de Frida Kahlo e Diego Rivera me ensinou a enorme diferença entre fidelidade e lealdade.
Fidelidade é estática. É estar ali ao lado, gostando ou não, feliz ou não. É quase estar amarrado. E isso não se prende apenas à vida amorosa. Tem a ver com amizade, com família, com relações. Todas.

Lealdade é estar ali ao lado porque se quer, quando se quer. E ter a coragem de dizer quando não se quer mais, ou quando se quer, mas não se está feliz com a maneira como as coisas caminham.

Quem é fiel, mas não é leal, acaba traindo. Pode não ser traição física, porque seria infidelidade. Mas é traição de alma. É não dizer o que se pensa por medo de correr riscos, de confrontar, de se indispor, de sair da zona de conforto, mesmo que isso seja uma possibilidade de crescimento. É dizer aos outros, mas não dizer a quem precisa ouvir.

Quem é leal pode até não ser fiel. Mas a diferença é bem clara: quando você é leal, mas não é fiel, o outro é o primeiro a saber, e pode ESCOLHER se aceita ou não. Ser leal é uma prova de coragem. É dar ao outro o direito de discordar de você, de seguir outro caminho, se achar melhor.

Em seus poucos dias de vida, minha doce Frida já parece saber a diferença. Deita-se sobre meus pés como uma pantufinha branca, mas reclama quando quer atenção, mesmo correndo o risco de tomar bronca por resmungar no meio da noite. Talvez por ser filhote, por ter o instinto de sobrevivência pouco aflorado. Sei lá. Acho que a necessidade de sobreviver inibe a coragem de ser leal. É mais uma das escolhas da vida. Viver ou apenas sobreviver.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Família é tudibom






Pois então. O tio-avô da Isa morreu. Aí a mãe foi explicar que o pai não poderia buscá-la, pois precisava dar uma força ao vovô Valter, que estava muito triste.

- Mas triste por quê?
_ Porque o irmão dele morreu, e é triste pensar que a gente gostava daquela pessoa e não vai mais poder vê-la.

E a Isa, do alto da sabedoria dos seus cinco anos:

- Ah, então eu resolvo o problema. Acontece que quando eu olho para o céu, sei diferenciar entre qual estrela é planeta, qual estrela é Deus e quais estrelas são anjos. Eu converso com o vovô Valter e o ensino a encontrar o Tio nas estrelas, daí ele não vai mais ficar triste.
- (...!!!)
- É, né, mãe, mas você sabe que o tio não vai ser anjo pra sempre, né?
- Ah, não?
- Não, né, depois de um tempo as pessoas nascem de novo...

(O resto da conversa eu conto depois, quando tiver maturidade pra absorver o que ela disse...)

*


Força-tarefa para os últimos retoques no meu apartamento novo: eu, meu pai, minha mãe, a Vera e o Seu Geraldo, pintor.

Cada um na sua tarefa, limpando, pintando, lixando, serrando... aí pelas onze da manhã, minha mãe pergunta se alguém quer uma fruta - que ela tinha levado, naturalmente. E eu digo:

- Puxa, o tempo passou rápido, daqui a pouco preciso buscar nosso almoço.
- Você só precisa arrumar um jeito de ligar o microondas...

E olho, entre estarrecida e emocionada, o banquete preparado na véspera, cuidadosamente acondicionado em uma fila de vasilhinhas: arroz, feijão, lombo, couve, legumes. Que foram carinhosamente aquecidos e servidos em pratos e garfos que vieram de casa em uma trouxinha, amarrada por um pano de prato...
Precisa de mais ALGUMA COISA nessa vida???

domingo, 15 de agosto de 2010

Um texto enviado pela Fabi nesta semana falava sobre o estilo estadunidense de trabalhar. Dizia que, quando os russos querem dizer "trabalhando feito um cão", dizem "trabalhando como um americano".

O texto questionava a relação estranha que nossas culturas vêm estabelecendo entre as pessoas e o trabalho. Seguindo a tradição dos EUA, acho que, como dizia Marx, a cada dia ficamos mais alienados em relação ao resultado do nosso trabalho.
Cansados de mofar em escritórios servindo a grandes empresas, há pessoas que têm trocado seus trabalhos intelectuais por profissões mais "manuais", tendo mais contato com o resultado do que fazem, e estão se reapaixonando pelo trabalho.

Apesar de adorar o trabalho do qual eu vivo, confesso que às vezes eu balanço pensando nisso. Hoje, enquanto testava um produto para escurecer a madeira para fazer um acabamento na cozinha, fiquei pensando em quantos ofícios aprendi nesses últimos tempos, movida pela reforma da minha casa.
Com a Carol, aprendi a ser quebra-galho de eletricista. Ela é responsável por este lustre aí da foto, que tem nada menos que vinte lâmpadas e ilumina minha nova sala. Antes que eu terminasse a frase, ela já estava, lá de Brasília, projetando o lustre, conseguindo o material. Ligava tarde da noite, contando que tinha descoberto um jeito de fazer isso, de fazer aquilo. O lustre virou um projeto nas nossas vidas, nos aproximou mais, e me lembra que tenho uma amiga querida, todos os dias quando entro em casa à noite (atenção: o quebra-galho não é ela, sou eu!!!).

Com minha mãe, aprendi a organizar, a transformar um forno antigo em um diamante luminoso. Com meu pai, aprendi a lixar, furar, pintar... a ser versátil, a entender que pra tudo tem um jeito; é só correr atrás. Com minha irmã, aprendi que, mesmo que a gente não seja muito especialista em coisas de casa, o importante mesmo é dizer "tô aqui para o que precisar, é só me dizer e a gente se vira pra fazer". A gente aprende, e tudo acaba dando certo.

Enfim, a cada dia gosto mais de sujar a cara de tinta, serrar umas madeiras, bater uns pregos e ver o resultado. Colocar o lado direito do cérebro para trabalhar dá uma sensação gostosa. Parece que tocar aquele objeto, aquela parede, materializa o resultado do esforço de uma forma mais completa. Será?
Pra pensar... ou pra fazer, sei lá.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Coração na Boca

Conheci a Fê no colégio. Era amiga da Dani, uma das minhas melhores amigas até hoje. A gente era tiete de Skank e Jota Quest, naquela época J. Quest. Estávamos em todas aquelas festinhas na casa de fulano e sicrano, "10 reais pra entrar, J. Quest vai tocar". E a Fê paquerava o Rogerinho.

Corta a cena. No Facebook, soube que a Fê é quem escreve o Coração na Boca. Fui puxando a linha; acabei descobrindo que a história evoluiu e, entre outras coisas, grande parte das músicas do Jota Quest foi ela quem escreveu. Achei incrível saber que as letras daquela Fê loirinha e com um sorriso do tamanho de BH embalaram e ainda embalam tanta coisa na minha vida. Sentimentos às vezes confusos, enroscados, mas o importante é que eles continuam ai, dando gosto à vida.


domingo, 25 de julho de 2010

A pipa do vovô





Passamos hoje um doce dia em família. Batendo papo e assistindo ao meu pai soltando pipa com minha irmãzinha... que tem 28 anos. Pois é... Chegamos ao parque e ela se encantou com uma pipa que tinha estampado o escudo do Atlético Mineiro.

A certa altura, vendo minha irmã, atrapalhadíssima, pelejando para fazer o brinquedo voar, um menininho se aproxima e diz: "moça, não adianta. A pipa não vai subir". Minha irmã comentou "é por causa do vento?". "Não, é porque sua pipa é do Galo".
Durma-se com um barulho desses...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

"Mexendo" com marketing



Desde a última quinta estive totalmente imersa em educação empresarial. Muito aprendizado, mais bons que maus momentos, suando, sensação de que o cérebro está pedalando, pedalando...


Talvez por estar revendo e lembrando a teoria, estou ainda mais crítica. E, talvez exatamente por causa disso, dois fatos aconteceram e me deixaram pensando no quanto temos a aprender sobre aspectos tão simples de marketing.

Quando se pergunta a um empresário por que uma empresa existe, é comum ouvir a resposta "para dar lucro". Concordo. O que as pessoas muitas vezes esquecem é que esse lucro só existe se, e somente se o produto ou serviço comercializado for um um meio para satisfazer as necessidades e desejos do cliente. Cada vez mais se acentua a tendência de que nenhuma empresa sobreviva se não resolver o problema do cliente. E mais: com excelência.


Talvez exatamente por estar mais sensível a isso, literalmente "espumei" com dois fatos que aconteceram entre a semana passada e esta.

O primeiro foi com uma empresa que produz móveis. São lindos. Modelos diferenciados, bons preços, bom prazo de entrega. Fiz a compra, recebi um email confirmando o envio à transportadora e, uns três dias depois, em pleno domingo, recebo outro email informando o cancelamento do pedido. Curiosamente, apesar de enviá-los para perturbar o dia dos clientes, aos domingos esta empresa não responde emails nem telefonemas.

O segundo foi com a coifa que mandei fazer. Pediram quinze dias úteis, sem possibilidade de alteração, muito rígidos etc e tal. Pois no dia marcado nem apareceram nem responderam meu email. Três dias depois, dignaram-se informar que "realmente houve um atraso"(descoberta brilhante!) e limitaram-se a remarcar a entrega para daqui a quinze dias.


Fico pensando o que tende a acontecer com empresas que simplesmente vendem móveis ou coifas, e se esquecem de que na verdade deveriam vender a realização de sonhos. Não comprei um equipamento de cozinha ou artefatos de madeira. Comprei parte da realização do sonho da minha casa! Há dois meses estou passando por um processo trabalhoso e desgastante de reforma, e tudo o que alguém menos quer a essa altura é que um funcionário burocrata se limite a constatar erros sem apresentar solução. Resolvem parcialmente um problema e criam uma dezena de outros, novos.

Se essas empresas têm alguém encarregado do marketing, mesmo sem vê-lo, posso afirmar que essa pessoa é o perfeito exemplo do indivíduo que, perguntado sobre o que faz, responde "eu mexo com marketing". E mexem também com os nervos dos clientes e com os lucros das empresas... da pior maneira possível.


Elas podem até tentar mexer com marketing, mas, definitivamente, o marketing não mexe com elas. Pronto, falei.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A última romântica



Pois então. No meio da tarde de segunda, uma amiga, que conhece bem sua xeretice e curiosidade, te liga, dizendo que na quarta vai haver uma palestra sobre física quântica na Unipaz.

Você, que nem sabia que existia Unipaz em BH, liga para lá para confirmar sua presença. Daí a moça que atendeu ao telefone, muito simpática, oferece: temos também sessões gratuitas de reiki, você quer agendar? Gente, quem recusa reiki? Agende aí, moça, por favor...

No dia marcado, você chega, é recebida com o maior carinho e passa por uma maravilhosa sessão de meia hora. Ao sair, com a alma nas nuvens após um dia elétrico, ninguém te cobra nada e as pessoas ainda agradecem por você ter ido.

Estranho? Pois não devia ser. Ainda sou daquele tipo que esperneia para não se acostumar a essa rotina seca, mesquinha e viciante em que a gente vive enfiado.

Sei que Deus não lê meu blog, mas gostaria de deixar aqui meus mais sinceros agradecimentos, por ter tão pouco a pedir e tanto, mas tanto a agradecer. Perdi a conta de há quanto tempo não posto um chili.

Delícia de dia!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tia Irene 10 x 0



Quase não consigo assistir ao jogo hoje.

Quando saí, sabia que perderia um pedaço de todo jeito, então resolvi relaxar e prestar atenção ao povo na rua, que não podia ou não queria assistir ao jogo. Vendedores de bandeiras no sinal, gente lavando o carro, passeando com o cachorro... Daí me lembrei de uma historinha da copa de 94. Da inesquecível Tia Irene.

A família do meu pai é muito religiosa; daí o fato de ele ter várias tias freiras ou beatas. Na década de 80, lembro que todas olhavam para nós, menininhas cheias de filós no cabelo e esmaltes verdes nas unhas, com olhar de reprovação. Vestido decotado então, era bronca na certa. Menos a Tia Irene.

Tia Irene tinha sempre um sorriso tranquilo no rosto, mãozinhas finas, branquinhas e carinhosas e as palavras mais divertidas nos lábios. Quando via nossos esmaltes berrantes, para desespero de suas irmãs, dizia: "que tal se você combinasse com o vestido?".

Para mim, que estudei em dois colégios de freiras com pedagogias, no mínimo, massacrantes, encontrar a Tia Irene era um oásis no deserto. Ela parecia não envelhecer, não adoecer, estava sempre lúcida e bem-humorada, cheia de piadinhas.

No dia da final da Copa de 94, meu pai estava com o pé quebrado e pediu que eu fosse, em seu lugar, fazer uma visita a ela na enfermaria da Santa Casa. Já fui paramentada, de camiseta e tal, pensando em como animar uma velhinha querida, magrinha, fraquinha, que, com seus 90 e poucos anos, estaria em um hospital enquanto o país inteiro vibrava com a Copa.

Para minha surpresa, Tia Irene estava com o bom humor de sempre. Cumprimentei, conversei um pouquinho, e comecei a contar a ela que naquele dia seria a final Brasil x Itália. Santa ingenuidade, Batman! Enquanto eu falava, a danadinha deu uma piscadela, esticou a mãozinha e puxou na cabeceira da cama um radinho de pilha: "e eu não sei?".

É, tia, você deve ter assistido ao jogo de hoje aí em cima em uma telona de plasma de primeira linha, né... pena que a molecada aqui embaixo te decepcionou. Mas em 2014 tem mais!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Beco de Baco




Há uns dias, minha irmã Val me acompanhou em uma daquelas hoje incontáveis excursões à Leroy Merlin para comprar material de obra.

Foi muito engraçado. Enquanto eu olhava lâmpadas, questionava voltagem, economia, fui percebendo com o canto do olho que ela começava a se espichar. Conhecendo como conheço a peça, fui tratando de juntar minhas coisas, porque o prazo de validade dela ali havia acabado. Em cerca de 30 minutos.

Então perguntei: mas quem é que vai montar sua casa? Quem vai colocar as coisas do seu jeito? E ela respondeu: ah, para mim de qualquer jeito está bom. Só vou chegar à noite mesmo...

Hoje enquanto voltava da trilionésima visita à obra (falando assim, nem parece que meu palácio é um apartamentinho de poucos metros quadrados...), vim pensando no carro. Obra azeda qualquer cristão. Não tem como escapar; ainda mais se for reforma, dizem os mais conhecedores do tema. A verdade é que nada funciona como você pensou que funcionaria, surgem palavras e rebimbocas que não existem em nenhum dicionário, e tem hora em que o pedreiro faz perguntas cuja resposta você trocaria alegremente por uma extração de unha do mindinho. Todo dia uma azia diferente, um mês, dois meses...

O lado bom disso tudo é que vai acabando. Já começo a sentir a delícia de olhar para a pedra do balcão da cozinha e imaginar a cebola que vou picar para colocar naquela feijoadinha. Olho uma prateleira e já enxergo o abajur que vou fazer com uma garrafa vazia de vinho e umas luzinhas para colocar em cima. Vejo o local do fogão e já sinto o cheirinho do molho de tomate. No quarto vazio já sinto a presença dos amigos visitantes e suas malas, na varanda já ouço as risadas ao som de uma musiquinha e ao sabor de uma cervejinha gelada.

É, Val, ou eu muito me engano ou ainda vou ver seus olhos brilhando na loja de bricolagem. Porque, por mais que o balcão esteja meio torto, que a dobradiça da porta ainda não esteja funcionando, que o cano ainda não esteja perfeito, não existe nenhum lugar no mundo que consiga ser mais lindo que o lugar onde a gente guarda os amigos, os discos e livros...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Festival de Inverno



Eu era uma pessoa muito anti-inverno. Gostava mesmo era do calor, mal via o inverno torcendo para chegar o verão.

Mas, de uns anos pra cá, comecei a perceber as delícias de um friozinho e passei a gostar muito dessa época.

Lembra do post sobre quentar sol? Pois é. Hoje em BH a mínima prevista é de oito graus. Durante a manhã, cheguei a bater queixo. Mal via a hora de chegar o almoço, para depois quentar sol. Aliás, estou escrevendo este post ao sol. Um sol de duas da tarde, já começando a ficar morninho... aquece o corpo e a alma.

E quando o sol se for? Bom, hoje tenho aula até as dez, mas antes vou ter o cuidado de passar no super pra comprar umas coisas e continuar o festival de (pré) inverno. Veja se te agrada:

- Um peito de frango com osso e sem pele
- Meio quilo de mandioca enxutinha
- Duas cabeças de alho
- Uma cabeça de cebola
- Um maço de cebolinha
- Uma pimenta dedo-de-moça
- Creme de leite
- Cogumelos, ervilhas
- Parmesão ralado grosso.

Descasque uma das cabeças de alho, pique a cebola e frite em pouco azeite. Refogue o peito de frango e a pimenta, picadinha. Acrescente um litro e meio de água, aproximadamente, e a mandioca. Ah, pegue a cabeça de alho que sobrou inteira e corte apenas um pedacinho em cima, para expor os dentes. Adicione sal à água e coloque para cozinhar na pressão durante 40 minutos.

Abra e veja se está bom, com cuidado para não queimar a mandioca (estar bom = o frango se derrete e você pode retirar apenas os ossinhos, sem trabalho nenhum). Retire a cabeça de alho inteira e aperte os dentes. Vai sair um creminho maravilhoso que você pode passar em umas torradinhas pra ir beliscando. Abra um vinho, não muito encorpado, para que o gosto não "mate" o sabor do frango.

Se a mandioca não tiver derretido, você pode passar os pedaços pelo mixer ou liquidificador. Acrescente cogumelos picados, ervilhas, aspargos e cozinhe por mais uns dez minutos, mexendo sempre, com a panela aberta.

Pronto. Acerte o sal, acrescente um pouco de creme de leite, polvilhe o queijo ralado e a cebolinha, tome um gole de vinho e ame o inverno!

Ah... já conhece esta receita, né? Bom, então apenas mande uma mensagem dizendo a que horas vem e eu separo uma cumbuquinha, colher e taça para você.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Trem Bom


Na turma do curso de sommelier, o Sérgio se apresentou assim: "estou abrindo um restaurante, mas não entendo nada de cozinha. Eu entendo é de comer. Sou um glutão". Ele estava se aposentando de um banco e, de tanto comer coisas maravilhosas em vários Estados do Brasil, decidiu que queria abrir um restaurante.


Algum tempo passou, todo mundo curioso esperando o fim da reforma e a badalada inauguração. Na primeira semana, aproveitei para levar meu colega Ulisses, baiano proveniente de Brasília, para conhecer a novidade.


Não é um restaurante. É uma história. Você entra por um vagão de trem, com detalhes que deixam a gente meio bobo, como as "janelas" - fotos emolduradas que mostram uma paisagem fotografada em diferentes velocidades, como se o trem estivesse parando; malas incríveis que o Sérgio conseguiu num brechó... e ele sempre ao lado, comentando e dando as dicas.


O buffet foi instalado na "estação", que tem requintes como aquelas lanterninhas antigas, de estação de interior mesmo. E o Serjão continua: veja as luminárias, fui eu que fiz. E a pintura, foi meu sócio. Gente, e a adega! Toda feita com aquelas caixas bárbaras de vinho. E tudo ideia dos três.


Ulisses ficou encantado, tirando foto de tudo que é lado. E eu, que estou reformando meu cantinho, com a cabeça fervilhando de ideias. Uma delas foi tentar entender como é que três homens conseguiram trabalhar tão bem o lado direito do cérebro em um negócio.


Vai ver é porque é mais que um negócio: é um sonho. Fato é que, depois da inauguração, o Sérgio remoçou uns dez anos. Chega sempre cheio de novidades, trabalha de manhã, à tarde e à noite feliz da vida, não se cansa.


Fico pensando como seria se todo negócio fosse assim. Se a gente acordasse para o fato de que o melhor dinheiro do mundo é o que a gente ganha fazendo o que gosta, realizando um sonho.


Acho que eu posso dizer que meu trabalho é a realização de um sonho. Mas preciso confessar que senti uma pontinha de inveja do Serjão e do seu trem bom. Note que eu disse que o meu trabalho é a realização de UM sonho. Escreve aí que um dia ainda vou virar maquinista e servir um café coado na mesa igual a esse da foto. Bom demais, né, Uli?


Um brinde ao Serjão e a seu sonho realizado.


Ópera Clube Gourmet: Av. Olegário Maciel, 1422 - Lourdes - Belo Horizonte

domingo, 30 de maio de 2010

Comida


Descobri que corpo de mineiro tem uma coisa diferente: em Minas, comida não vai para o estômago; vai para o coração. Comida tem vínculo com afeição, amizade, formas que o amor assume.

Se você for à casa de um mineiro e ele não te der algo para comer, ainda que seja um salgadinho descongelado, um pedaço de bolo de anteontem, desconfie: ou ele não vai muito com a sua cara ou de repente é meio falsificado...

A primeira vez em que eu cozinhei foi com dez anos. Lembro perfeitamente o dia. Minha tia passou mal, minha mãe foi acudir e, de uma hora para outra, meu pai e minhas três primas viriam almoçar. Como boa mineirinha, eu já tinha feito "estágios", picando cebola y cositas mas; daí olhei para o pacote de macarrão, para a lata de molho (sim, lata de molho, já usei isso, por favor não me censure... rsrsrs) e resolvi que algo deveria ser feito. Bom, meu pai catou até as últimas cebolas da travessa, e naquele momento eu percebi que ver as pessoas felizes em comer o que você faz é mesmo bom.

Percebo que os não-mineiros, não-italianos e outros povos menos comilões têm certa dificuldade em entender por que eu chego meio atrasadinha à festa por ter ficado esperando o pão assar, ao invés de simplesmente passar no supermercado e comprar um belo pão integral. A Cami, que é mineiríssima e feministérrima, não entendia por que diabos eu preferia picar tomate a comprar uma lata de pomarola. Mas a vida ensina, e como ela está em dieta de sal, teve que aprender a cozinhar a própria comida... fazer seu molho de tomate... e, aqui entre nós, parou de negar a raça: anda convidando as pessoas para jantar, e até me pede receitas. Que eu dou com o maior prazer.

Enfim: troco de bom grado uma noite de balada e uma manhã de sono preguiçoso (que eu amo!) por umas horas com a barriga no fogão, e especialmente pelo pedido da Rita ontem: "gente, por favor, agora parem de comer, porque esse pedaço de pão que está em cima da mesa eu vou levar pra casa".

Comida. Muita. Regada a risada, vinho, cerveja, muita bobagem. Balada com panelas é tudo de bom. Com os amigos, os amigos dos amigos... é só botar água no feijão.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Seis


Seis motivos para sorrir:
  • Assistir Friends na TV sábado de manhã
  • Comer brodo feito em casa em uma noite fria
  • Viajar pra onde o nariz apontar, batendo papo com o pé no console do carro
  • Ganhar surpresinha da rua
  • Segurar na mão durante a turbulência
  • Pagar e receber portãozinho

Hoje eu acordei com uma vontade de mandar flores ao delegado...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Varanda do Maletta



Ontem fui tomar umas copas no Copa com o Fá. Depois de fazer amizade com os donos do bar e trocar confidências e dicas de reforma (estou descobrindo uma nova tribo, solidária, que compartilha na maior generosidade dicas pro cimento queimado não quebrar, bons pedreiros, lojas...) resolvemos dar uma esticada num bar na varanda do Maletta.


Mas como assim na varanda do Maletta?


Quem conhece Belo Horizonte sabe que a varanda do Maletta é o corredor das lojas que funcionam lá durante o dia. O Maletta é um prédio comercial, no centrão de BH, com bares por dentro e lojas por fora... risos...


Enfim. Alguém teve a ideia de pegar uma dessas lojas, reformar e fazer um bar mega-charmoso. E com uma música indescritível. Deu vontade de passar a vida ali ouvindo. Pra falar a verdade, não comemos nada, só tomamos umas taças de vinho, temperadas com a gentileza dos donos do lugar.


A cereja do sundae está nesta foto. A varanda coloca a gente praticamente com a cara dentro do prédio em estilo gótico do antigo museu de mineralogia, no meio da selva de concreto. Próxima parada? Fim de tarde de sábado. Já disseram que a vista fica ainda mais bonita. Arqueologia da noite... coisas de beagá. Vamos?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quentando sol





Eu tinha lá uns quatro anos. Mas me lembro perfeitamente da cena. Dias frios de outono, céu azul profundo,eu entrava correndo pela porta da casa da minha avó e a Vera dizia: sua vó tá lá no quintal, quentando sol...

Esqueci essa expressão por muitos anos, até o dia em que a Carlinha, amiga que saiu de BSB pra morar em BH, escreveu, em uma manhã de outono, contando que pela primeira vez na vida se sentia bem em ficar sentada ao sol na hora do almoço... era quentinho e confortável. Daí eu me dei conta de que isso era meio raro na hora do almoço em Brasília, ao menos não no Plano Piloto. Se você se senta ao sol ao meio-dia, em qualquer época do ano, muda do estado sólido para o líquido em fração de segundo.
Estou aqui pensando... será que é tão difícil largarmos nossos computadores enfurecidos e cheios de janelinhas e nos dar cinco minutos de tranquilidade e conforto, sentindo o quentinho do sol? Por que será que fazer isso é tão difícil, mas responder dez emails ao mesmo tempo parece tão fácil?

Hoje faz sol em BH. O céu está impecavelmente limpo, ainda em um tom azul-claro. Faz um friozinho de uns 15 graus. Olho pela janela e vejo o sol entrando... que delícia. Na hora do almoço vou quentar sol. Amo muito tudo isso!

domingo, 9 de maio de 2010

De Brasília



Clarice Lispector dizia que Brasília é uma prisão a céu aberto.

Para mim sempre foi. Tudo bem que em regime semi-aberto, e diversão nunca faltou. Porém, foi uma temporada, teria data para acabar. Minha alma não pertence ao dia-a-dia daqui.

Mas uma coisa que não posso deixar de ser é grata a esta cidade por ter me proporcionado a coisa mais preciosa do mundo: novos amigos. Amigos de verdade.
Amigos que estiveram ao meu lado desde o primeiro dia, dividindo as angústias, somando as alegrias. Amigos que foram para longe, mas continuaram por perto. E mais amigos que foram surgindo ao longo do tempo. Não tem nada melhor que viajar e ter alguém de quem sentir saudades. Brasília me deu isso. E continua a dar.

Nestas noites frescas e manhãs quentes de maio, agradeço ao Planalto Central por me mostrar como são preciosos os amigos que fiz neste lugar e, principalmente por me dizer, mais uma vez, quem é cada um deles. Por ter me dado de presente uma semana de encontros, sorrisos, convites, gargalhadas, lágrimas, abraços, beijos, telefonemas, até mesmo posts de facebook cheios de carinho.

Onde quer que esteja, cada um destes irmãos que eu escolhi sabe que vou novamente com o coração feliz, cheio de saudades, e os braços loucos por se abrir e apertar com força cada um deles no próximo encontro.

sexta-feira, 7 de maio de 2010



"Sou uma filha da natureza:quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo,de um mistério. Sou uma só... Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo."

Clarice Lispector

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Fantástica Fabriquinha Voadora de Leis



No Brasil tem lei que pega e lei que não pega. Isso todo mundo sabe. Todo mundo sabe também que tem pessoas, físicas e jurídicas, que optam descarada e tranquilamente por ignorar ou burlar a lei, encarando isso como parte da estratégia de negócio.

Mas o que eu não sabia e descobri hoje é que agora tem empresa criando lei. Isso mesmo! Rapidinho, sem votação, como se faz um pão de queijo!


Sou conhecida entre minha família e amigos por recusar-me a ficar quieta quando sou lesada, especialmente em meus direitos de consumidora. Brigo, exijo, abro processo. Até hoje só perdium. Acho que isso é parte do meu papel para tentar conseguir que o País melhore um pouquinho.


Na semana passada fui a uma audiência com aquela tradicional companhia aérea que não sabe que existe Lei no Brasil. Ok, todas são mais ou menos assim, mas tem aquela nossa amiga que não faz a menor questão de tentar disfarçar que vive à margem dessas "coisas".


Você acredita que o advogado teve a coragem de anunciar, em alto e bom som, dentro do juizado e na frente do conciliador, que, uma vez que a empresa escreveu no contrato que está violando a Lei, ela pode violar a Lei? Funciona mais ou menos assim: se você fizer um contrato com alguém estabelecendo que vai sair pelado correndo pela rua, em pleno meio-dia, isso deixa de ser atentado violento ao pudor! Não é incrível?


E o mais incrível disso tudo é que, quando eu comecei a rir e o conciliador disse que isso ia contra a Lei, o advogado deu uma bronca danada, pois achou que o conciliador não tinha direito a dizer isso. Ah, já sei, deve ser outra "lei" da empresa laranjinha... além de transformar o errado em certo, eles também transformam o certo em errado. Como dizia o Zé Simão, vai indo que eu não vou. Aliás, vou: daqui a uns dias conto o resultado do processo.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Confraria

Faz um ano mais ou menos que eu organizo compras de vinhos entre amigos. Funciona assim: eu recebo o catálogo da vinícola, envio aos amigos, cada um faz seu pedido, eu consolido, compro e, quando chega, eles buscam.

Dia desses minha mãe comentou isso com uma conhecida que gosta de vinhos e ela perguntou se eu revendia, quanto eu cobrava pelo trabalho de fazer essas compras, porque ela queria também. Não, eu não revendo... nem cobro nada. Aí alguém que estava por perto perguntou: então por que você faz isso, se dá tanto trabalho? Ahn... sei não.

Semana passada chegou a "leva" deste mês. Avisei às pessoas e vieram buscar; algumas passaram quando eu não estava em casa. Mas a Sil veio no fim da tarde de uma sexta "pilhada". Gente, há quanto tempo ela não aparecia em casa... e quanta coisa tínhamos pra conversar. Coisas que não cabem em email nem telefone. Histórias sobre o charme do Gabi fazendo teste pra modelo, sabendo que é o mais bonito. Muita coisa pra por em dia. Convite pro lançamento de um livro maravilhoso no sábado em um lugar novo e delicioso na Savassi. Novas pessoas. Novas ideias. Talvez futuros livros.

Hum, acho que eu descobri por que faço essas encomendas de vinhos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

WTF?



Ele é um sujeito bem legal, cheio de moral. Tipo do cara que batalhou e batalha muito, se fez na vida, conquistou coisas legais sem perder a simplicidade. Fala na lata mesmo, mas com a maior delicadeza. Luta vale-tudo mas tem uma coleção de gravatas pelas quais eu mataria. Uma mistura assim de shrek com Sean Connery fazendo aquele James Bond das antigas.


Ela eu não conheço pessoalmente. Só pelos olhos dele. Psicóloga, independente, inteligente, bonita, disputada...


Um é doido pelo outro e eu sei de tudo. Mas um não consegue entender que o outro é doido por ele. Simples assim: não consegue aceitar, não consegue confessar, não consegue. Não consegue dar o primeiro passo.


Ele quer que ela se abra mais, se declare, se derreta. Com suas orelhinhas verdes de ogro, dá um suspiro e me conta os milhares de sonhos românticos, as flores que gostaria de receber, os sequestros de que gostaria de ser vítima. Mas só conta pra mim. De resto, calcula cada pingo nos is que fala com a moça.


E ela, por sua vez, não fica atrás. Não posso porque tenho que sair com minha amiga. Não te liguei, mas por que você também não ligou? Ah, como eu proporia algo no seu aniversário, nem sei se você quer sair com seus amigos...


E eu aqui, assistindo o pingue-pongue, sem saber se rio com essa ceninha ridícula de morrer de paixão e ao mesmo tempo ficar contabilizando olhares, ou choro, porque vejo as coisas se desgastando e a "desalquimia" de amor virando ódio se aproximando.


Ai, gente, que saco esse jogo de gato e rato que começou com a invenção da pílula e a queima dos sutiãs! Será que ninguém mais chora por amor, será que ninguém mais faz serenata na janela pra toda a vizinhança assistir, será que ninguém mais se expõe? Será que o medo da rejeição é tanto que ninguém percebe que economizar o calcanhar de aquiles é a fórmula certa da rejeição?


Estratégia tem limite, amor não é jogo de soma zero, não pode ser... Aproveite o finde, abra o coração, exponha a alma, se arrisque e arranque seus cabelos de tanto amor.

domingo, 11 de abril de 2010

Borboletas no Estômago



Semana animada. Início do encerramento (ficou engraçado, não ficou?) de um trabalho muito gratificante em São Paulo. Aliás, em São Paulo, nada; no mundo todo, se Deus quiser.

Esses finalmentes sempre me emocionam. Mas eu tenho o hábito de ficar calada e disfarçar os olhos cheios d'água, porque normalmente sou a única. Ah, mas na sexta eu fui apenas mais uma.

Ao início da reunião, quando vimos o filme sobre a expansão da presença das editoras brasileiras no mundo, mostrando as iniciativas, os eventos, as conquistas, achei que as luzes se acenderiam e o programa seguiria normalmente, falando sobre marca, imagem, planejamento.

Ledo engano: quando minha cliente pegou o microfone, a voz embargada não conseguiu esperar nem cinco palavras. Meus olhos marejados passaram dos dela ao de cada membro do comitê de planejamento, que passavam os dedos sob os olhos e faziam "snif". Pronto. Estava em casa.


Choro, sim, fico emocionada, sim, quando vejo o quanto fizemos nesses três meses de trabalho duro. Sou um misto de especialista com generalista; marketing internacional é um mercado ainda nascente e cheio de especificidades, mas, por outro lado, imenso: cada projeto me lança em um mundo novo, que vai desde produtos tangíveis, como calçados, até o compartilhamento de idéias, de cultura, estilos de vida, que é o conteúdo editorial. Por isso, há não sei quantos anos, cada início de projeto tem aquele friozinho na barriga, aquele medo secreto de não conseguir entender, ou de não me fazer entender.

Na mesma sexta, mais de doze horas depois, já em BH, em um boteco com amigos, percebo que tenho companhia. Um jovem roteirista me conta que acaba de iniciar seu primeiro trabalho... e o relato da sua angústia-felicidade é exatamente o roteiro das minhas sensações nesses últimos três meses. Ou três anos. Ou treze. Sei não.

Que delícia é sair para uma reunião pensando, aliás sentindo "oba". Que delícia é trabalhar com gente que se diverte tanto quanto você, e que quando o final do planejamento se aproxima - e, com ele, o início de uma nova realidade - se emociona. Que delícia é a gente se sentir criança a cada novo começo. E encerrar mais um ciclo ganhando novos amigos, fortalecendo velhas amizades e sabendo que vem aí mais um lote de borboletinhas.

domingo, 4 de abril de 2010

Doce que nem o Chico



Fui ver o filme do Chico. Confesso que já saí de casa gostando dele. Já tinha lido e adorado o livro do Marcel Soutto Mayor, presente da saudosíssima Del e, juntando a isso o fato de eu ser espírita, tornei-me bastante suspeita... risos... Em minha defesa, comento que vi o do Bezerra de Menezes e detestei.

Adorei. Emocionante, OK, mas sem ser piegas. E com toques divertidíssimos do guia do Chico, Emmanuel, que apareceu no filme do jeitinho (e com as caras e bocas) que eu o imaginava.

Não sei se você sabia, e nem aparece isso claramente no filme, mas o Chico nunca matou um dia sequer de trabalho como escriturário da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo. Até aposentar. Ele trabalhava de dia e à noite praticamente não dormia psicografando, dando dois expedientes.

Mesmo para quem não é espírita e não acredita em mediunidade ou reencarnação, não há como negar o quanto o sujeito era especial. Um batidão desses, mais as broncas do Emmanuel, e ele com a melhor cara do mundo, o tempo todo. Uma das melhores passagens do filme é quando o Chico estava voando para São Paulo ou Rio, e o avião entra em turbulência forte. Ele fica com medo, reza, grita e de repente aparece o Emmanuel, caminhando no avião: "você chamou, eu vim. O que é?". "Como assim o que é", responde o Chico, "eu estou em perigo de vida". E o Emmanuel: "você e mais um monte de gente, isso não é privilégio só seu" (detalhe que ninguém mais no avião via o Emmanuel, então seria uma cena engraçada, não fosse a situação). Aí o Chico continuou a gritar de medo e o Emmanuel soltou esta "filho, se você está mesmo morrendo, pelo menos morra com educação. Cale essa boca!".

Assistir a esse filme me deixou com vergonha de pedir alguma coisa a Deus quando eu rezo. Tenho muito, tenho demais, e faço bem menos do que devia com o que eu tenho. Me mostrou como é difícil, mas como é importante reagir com doçura, ou pelo menos controlar a agressividade quando as pessoas pensam diferente da gente. Enfim, propostas e reflexões de Páscoa que eu queria compartilhar com você, comendo um pedaço desse bolinho aí em cima (que, como contei no outro post, era pra ser colomba, mas não encontrei fôrma).

Então, desejo para nós mais que uma feliz Páscoa, mesmo porque o domingo já está acabando, mas um feliz efeito da Páscoa, inspirado pela doçura do Chico, neste restinho de ano que começa hoje.

E, pra não perder a pimentinha, fico aqui cruzando os dedos para que o filme do Chico dê um merecido banho de audiência no filme do Lula - que tenho o gosto de dizer que não assisti, nem pretendo assistir.

quarta-feira, 31 de março de 2010

E, por falar em chocolate... tome pimenta!

Este é um post técnico-sentimental. Por isso me vejo obrigada a inverter a ordem da historinha, para começar pelo técnico.

Consegui hoje um tempo para comprar uns chocolates e formas para fazer colombas. Não gosto de dar ovos de Páscoa de presente; todo mundo normalmente ganha muitos, enjoa, e colomba é diferente, para horas diferentes. Prefiro.

Pois não é que, chegando à loja, descubro que não têm formas de colomba? Bom, conforme dizia um amigo acadêmico, já ia me penitenciando por ter chegado tão na última hora. Logo eu, que acordo, como e durmo planejamento. Mas antes que eu começasse, a moça emendou: neste ano não recebemos formas de colomba... nem fulano, nem sicrano, nem no mercado... gente, alô, atenção!!!?? Quando é que as pessoas estão calculando seus estoques? No domingo de Ramos??? Em pleno 2010? Será que no Natal as fôrmas da Páscoa já terão chegado?

Enfim, agora vamos à parte sentimental. Como disse, inverti a história; agora voltemos. A loja fica do lado esquerdo da rua e tem um estacionamento para três carros sobre a calçada. Quando cheguei, um carro se preparava para sair, de modo que emparelhei com a calçada logo abaixo e fiquei aguardando.

O moço precisava sair de ré. Mas "cadê" que alguém deixava passar? Então decidi abaixar o vidro direito e abordar sorridente o motorista ao lado, pedindo que aguardasse um pouquinho para que o outro saísse. Para minha surpresa, a criatura começou a tentar justificar o porquê não deixaria: falou que estava muito perto e eu disse que dava para ele descer; que tinha gente atrás e eu, com ainda mais dentes no sorriso, disse que ele tinha um metro. Por fim, o sujeito arrancou. Muito fino! Bom, em vista do insucesso, dei mais um sorriso para o próximo motorista e fiz novamente o pedido; mas dessa vez o legume nem explicou: olhou nos meus olhos e simplesmente arrancou.

Ah, gente, haja paciência! Nem falo sobre gentileza urbana ou coisa do tipo, que são conceitos muito sofisticados pra esse tipo de motorista. É falta de educação mesmo, daquela básica, quase confundível com coordenação motora.

Parem o mundo que eu quero descer!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Hoje é Dia do Chocolate!



Eu não sabia que hoje era dia do chocolate. Mas foi. Literalmente. Cheio de doçura, deixando aquele gosto bom na boca.

Primeiro por causa do Iuri, que desde ontem vem falando que eu estou demorando a postar. Depois pela Silvinha, que mandou um pastelzinho de chocolate do Maurilo, cobrando: e aí, seu blog é de chocolate, hoje é dia do chocolate, não vai escrever nada?

Que delícia isso de saber que as pessoas lêem, que algumas gostam.

Sexta feliz, cheia de notícias boas, trabalho rendendo, muita diversão com a Fê. Pra coroar o dia, a Renatinha pergunta se eu tenho algo programado pra de noitinha.

A Renatinha. Aquela que é um bombocadozinho, tem dois filhos, que é psicóloga, tem consultório, e também dá aulas à noite. Sim, aquela que corre, faz pilates e hidroginástica. E que quebrou a patinha na semana passada e ainda por cima levou uma trombada monstra de carro ontem. Ela mesmo. Consegue pensar em sair com uma amiga pra matar as saudades no dia seguinte. Como é que alguma coisa que a gente tenha marcado existe quando a gente recebe um convite de uma figura destas numa noite de sexta?

Saindo de casa, tomei uma mega fechada de um taxista. Daquelas de fazer a gente perder o controle. Quando cheguei pra encontrar a Renatinha, minhas mãos ainda tremiam, apesar de eu já ter atravessado a cidade. Mas de repente o taxista sumiu. E sumiram a patinha quebrada, o carro amassado, até o arranhão no braço. Nada disso tinha acontecido. Tinham acontecido o Léo, a Isabella, as aulas, a corrida, os amigos, a publicidade... uma caixa inteira de chocolates. Nada mais doía ou incomodava, a gente só ria, se divertia, se assustava com tantas novidades uma da outra. Engraçado como tem gente que não deixa de ter a ver com a gente nunca. Faz tantos anos que conheço a Renatinha, tão poucas vezes nos encontramos pessoalmente, mas cada encontro é um banho de endorfina, uma sintonia incrível, parece que a gente se viu ontem.

Cheguei em casa feliz, lembrando de cada chocolatinho colorido da caixa de hoje.

Silvinha e Iuri, obrigada pelo carinho da "pressão". Quando eu ganhava a vida escrevendo, muitas vezes não sabia se alguém lia. Hoje, sabendo que vocês estão lendo, definitivamente ganhei o dia.

sábado, 20 de março de 2010

Simplicidade

Tem um comercial da Rede Globo Minas no ar, com uma música do Pato Fu que se chama simplicidade. É uma delícia, dá até pra sentir o cheiro do fogão de lenha quando a gente escuta.

Tem uma parte que diz assim: "Café tá quente no fogo/Barriga não tá vazia/Quanto mais simplicidade/Melhor o nascer do dia".

Domingo passado eu descobri um buraco na minha vida espiritual. E dizem que, quando você descobre que precisa mudar algo e toma a decisão, o universo conspira a favor. Naturalmente, na segunda a Sil mandou um email convidando pra fazer pão na Magui.

Acabo de voltar de lá e só posso dizer que nenhuma experiência gastronômica se iguala a um tabletinho de fleischmann, uma colher de açúcar mascavo, três xícaras de farinha, uma de água e uma pitada de sal. De tantas frases e momentos que me tocaram ao longo do dia, não vou esquecer a Magui dizendo que o pão é a união dos quatro elementos: a terra, no trigo, o ar, no fermento, o fogo, no calor do forno, e a água.

Que coisa maravilhosa é ter essas fadas em Minas, que, em um sítio em Moeda, ou nas centenas de cozinhas das casinhas pelo interior do Estado, abrem suas casas e preparam uma alquimia inacreditável, transformando farinha, ou feijão, ou quiabo, ou banha de porco, e principalmente almas, em ouro.

Não é chique, não é sofisticado, é simplérrimo. Mas pode ser dificílimo. A Magui dizia hoje que, quando fazia o pão durante a semana, às duas da tarde, e as pessoas vinham do trabalho, ele não crescia. A mesma matéria, diferente energia.

Voltando a BH, fui compartilhar com minha mãe a vivência e as emoções do dia, e ela disse sabiamente: dom que não se compartilha se perde.

Talvez o ingrediente mais rico do paladar deste pão e de todas as iguarias que sempre enfeitiçaram a nós, mineiros, nas casas de nossas avós, mães e tias, seja esse dom, essa energia da partilha, que faz crescer qualquer pão mesmo em dia de chuva.

Hoje o pão cresceu. Gerou vivências, depoimentos lindos, conversas, e principalmente plantou sementes. A ordem é comer durante sete dias, mas eu acho que minha alma terá pão, no mínimo, para o ano todo. Naturalmente, se eu conseguir ter a sabedoria de conservá-lo.

Deo Gratias

terça-feira, 16 de março de 2010

O Elo Perdido


Hoje no curso de sommelier eu aprendi sobre a origem do enochatus vulgaris.
Meu primeiro contato com o tal "mundo do vinho" foi quando tive um cliente que produz vinho em La Rioja, Espanha. Queria trazer o produto para o mercado brasileiro.

Buscamos o Alex no aeroporto. Um espanhol simpático, diretor de uma vinícola conceituada, trazendo na mão seis preciosas ampolinhas. Naquele tempo podia. Hotel na Savassi, muito bom e bem localizado. Mas na primeira noite o Alex me liga pelas 22 horas, pedindo encarecidamente que eu lhe conseguisse um hotel cujo ar-condicionado não fizesse tanto ruído. Que sujeito exigente, pensei... mas ok, mudamos de hotel. Ainda na Savassi.


Tendo em vista que ele ficaria por uma semana, comecei a orientá-lo sobre as atrações para as horas vagas: livrarias, shopping, lojas. E ele respondeu: Vick, eu não vou sair à rua. Mas aí já era demais. Como assim o sujeito é tão cheio de coisas que nem à rua ele sai? Como ele vive percorrendo o mundo e não sai do hotel? Tive que perguntar. E ele contou: olha, eu moro em uma cidade que tem menos de 400 habitantes. Álava é murada; não entram carros. Eu cresci no campo, cheirando bosta de vaca, meus amigos são os mesmos até hoje. Por isso não gosto da rua. Tenho receio.

Então o Alex começou a me contar que a família dele, que cultivava uvas, faliu, e todos se mudaram para a cidade. Menos ele, que queria muito trabalhar com aquilo. Aí ele começou a trabalhar na colheita em alguma vinha. Depois estudou agronomia, depois montou uma toneleria. Aí foi trabalhar nessa vinícola e foi subindo até ser diretor. Simples assim. Como a vida dele.

Durante os grupos-foco que fizemos, eu ficava sentada ao lado dele, admirada, ouvindo "procure a manteiga"; "encontre o couro". E cheirava, cheirava, e nada. Até encontrar as famosas frutas vermelhas foi um parto. Pronto. Decidi que eu precisava estudar aquilo direito, senão nunca ia conseguir compreender como funcionam a mente e o coração de um cliente do Alex.

O projeto do vinho chegou ao fim, mas o retrogosto permaneceu. Continuei a estudar ali, aqui e fui percebendo que, mesmo tendo rinite alérgica, eu podia perceber milhares de cheiros que antes não conhecia. E comecei a cheirar tudo, de maneira que hoje quando estou na sala sei que alguém no quarto mexeu na coleira do cachorro, que tem o cheiro do xampu dele, que por sua vez tem cheiro de alfavaca. Passei a prestar atenção ao cheiro das ruas de BH em setembro, que se parece um pouco com o cheiro das avenidas de Brasília quando começa a seca, mas é infinitamente melhor. Eu sei que parece estranho, mas não pare de ler, por favor. Parece que a gente descobre outro mundo quando se concentra no cheiro e no gosto.

Foi por isso que eu resolvi me dar de presente este curso. Não tenho pretensão nenhuma com ele, só acho que esse negócio é bonito demais e eu mereço. Saio de lá todos os dias com os olhos brilhando.

Temos assistido vídeos com depoimentos de produtores de vinho da Europa, e foi aí que eu descobri que o enochato deve ser originário das Américas. Porque, como o Alex, produtores dos vinhos mais espetaculares do mundo são pessoas incrivelmente simples e sábias. Hoje por exemplo vi um moço da Alsácia, de jeans, camiseta surrada, barba por fazer, dizendo que o vinho é a forma mais cultural de exprimir a natureza de um lugar. Por isso a maioria dos vinhos europeus têm nomes de regiões: Rioja, Cotes du Rhone, Champagne... O moço dizia também o seguinte: São Bento foi o fundador da viticultura. Ele pregava o silêncio, a renúncia, a abstinência, típicas da vida dos monges, e associou a isso o cultivo das uvas. Hoje vemos que os melhores vinhos do mundo são aqueles produzidos por videiras cujas raízes são mais profundas. O moço da Alsácia dizia ainda que é preciso que a videira atravesse metros de cascalho para atingir o máximo de profundidade, porque na superfície tudo é instável e muda ao sabor do vento: um dia chove, no outro faz sol, venta... e a árvore, para produzir bom fruto, não tem que olhar para o céu, mas encontrar a tranquilidade e a paz das profundezas. Eles respeitam a terra, a planta, falam da uva como se fosse gente.

Nesses anos de curiosidade sobre vinhos, nunca vi alguém no continente Americano ser tão simples e tão profundo. Não sei se é por causa desse diacho dessa mania que a gente tem de achar que tudo que é da Europa é chique... por aqui vinho está virando símbolo de arrogância, de uma enochatice sem tamanho. Eu mesmo já fiz foi chuva de vinho sacudindo minhas taças perto do pessoal da minha casa... E você já reparou que os vinhos do novo mundo não têm o nome da terra? Aqui se batizam com o nome da uva... europeia, naturalmente. Eu não sei o motivo.

Com esse hábito de ficarmos nos pavoneando com taças de vinho, estamos perdendo a oportunidade de admirar o espetáculo que é o essa relação de respeito e aprendizado entre homem e natureza. E graças a essa nossa mania de só valorizar o que vem do outro lado do Atlântico, só conseguimos pensar em Proseccos e Cavas e perdemos a oportunidade de ver nascer e crescer, na nossa terra, vinhos que a Europa, com seus tantos séculos de experiência, já está conhecendo e aprendendo a respeitar.
Um dia a gente aprende... ser simples é muito complicado. Escrever posts enxutos, mais complicado ainda.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Amei meu dia!

Eu ainda não sou mãe. Mas ando seriamente desconfiada dessa história de que a gente cria filho para o mundo, não é para a gente.

Nesta semana foi a festinha de aniversário da Isa. Claro que a mocinha estava ansiosa pela chegada da data, naturalmente. Mas a mãe, Silvinha, quase não dormia, os olhos brilhando, esperando a chegada do grande dia. Já faz uns três meses que ela só pensa nisso. Lista de convidados, look, salão. Já eu passei uma semana na cola da Silvinha pra me deixar produzir a boneca. Consegui, com muita insistência, licença pra fazer a maquiagem. Mas do cabelo ela não abriu mão.

Não posso deixar de assumir que ontem de manhã cedinho já estava tudo pronto em cima da cama: uma valise enorme com todas as possíveis cores de sombras, gloss e outras tretas, mais esmaltes variados e presilhas, para o caso de eu conseguir autorização para mais alguma produção.

Seis em ponto já estava lá, armas em punho para o makeup. Pincéis, sombras, gloss... ah, foi tão rápido... vinte minutinhos e pronto, a princesinha já estava vestida e linda, esperando pacientemente a mãe entrar e sair em duzentos modelitos diferentes... como se, com a Isa reluzente no seu vestidinho lilás com bolas, alguém fosse sequer notar a presença da gente.

Sorte que a Isa também se divertiu com a festa. Silvinha e Leozito estavam em êxtase. Deve ter sido o melhor dia da vida dos dois. Em absoluto segredo, compartilhado apenas comigo e a mãe, a aniversariante registrou em seu novo diário, com chave e caixinha de música: "Amei meu dia". Nós também, Isete... e obrigada pela gentileza em deixar esses pobres marmanjos achando que eles fazem a sua alegria, e não o contrário.

(Em tempo: os créditos da foto deste lindo pezinho não pertencem a Isa Bueno. A cinderela é na verdade Helena, amor da vida de Moniquinha, deliciosamente experimentando o presentinho da tia Vick. Legenda da mãe, encantada: "Existe coisa mais criança?". Tô dizendo...)

domingo, 7 de março de 2010

Sobre amor e tapioca


Nesta semana, minha irmã pediu que ensinasse a ela como fazer tapioca. Comida tão simples, sem glúten (oba!), cheia de sabor e que tem o condão de reunir todo mundo na cozinha, preferentemente com latinhas de cerveja estalando de geladas.

Pois bem: um pouco de polvilho doce... quanto? Ai, não sei, um pouco... tipo um punhado por pessoa. Um pouquinho de sal, e aí vem a arte: dosar a água.

Para quem não tem hábito de fazer tapioca: esta pequena delícia do nordeste se faz apenas com polvilho e água; algumas pessoas temperam. E só. Você mistura, depois passa pela peneira e coloca na frigideira, recheando com o que quiser.

Pois é. Acontece que, se a água é muita, o polvilho vira uma pasta grudenta. Por outro lado, se é pouca, quando a "massa" vai à frigideira, volta a virar pó.

Afinal de contas, quanta água se deve colocar na tapioca? Eu não sei. Confesso que tapioca, para mim, é uma das comidas mais simples e temperamentais que há. Mais ou menos como o amor.

Os ingredientes são poucos, simples e clássicos, não tem como errar. Mas vai saber a combinação certa... nesta semana, fiz três vezes. Uma tentativa deu absolutamente certo (no dia em que ensinei à Val, graças a Deus), mas a segunda foi um fiasco. A terceira foi consertando a "massa" da Val. Estou falando de tapioca!!!!

Sim, sim, pode-se consertar. Amor e tapioca. Água demais? Mais polvilho. Água de menos? Umas gotas a mais. Um tantinho de suspense e a frigideira mostra o resultado.

Mas, na minha opinião, o mais fascinante, tanto do amor quanto da tapioca, não é esse resultado. É todo aquele processo de convivência, de escolha, temperado com as borboletas no estômago. Se você passa o processo todo querendo que acabe logo para saber se deu certo, pronto: a fome costuma ir-se logo nas primeiras mordidas, lavam-se as panelas e acabou-se. Mas e aquela cervejinha do começo do post? E a conversa?

Pois é, pra que a pressa...