domingo, 24 de abril de 2011

Santa Semana





Ovos de chocolate à parte, a gente morre e ressuscita várias vezes.

Morre quando sofre e não tem forças para olhar para a frente e ver que falta pouco para que a subida termine. Nasce quando finalmente entende o porquê de estar sofrendo e evolui.

Morre quando se esquece e nasce quando se lembra de que a tristeza é o dedo de Deus cutucando seu ombro pra ver se você finalmente se toca de que algo precisa mudar.

Não me lembro da última vez em que vivi tão nitidamente uma Semana Santa. E olha que procissão nessa vida não me faltou...

Dessa vez não teve procissão. Mas teve a angústia do calvário. Quinta Santa. Sexta da Paixão. Um super sábado de Aleluia, com um estalo de luz em uma conversa de cozinha - a milésima de tantas nesta semana, e o nariz enfiado numa taça de Carignan.

Ressuscitei hoje com a nítida sensação de que o caminho certo é simplesmente permitir-se não saber qual é o caminho e deixar que ele se faça.

O antigo pode ser novo, o impensável se torna pensável. Tudo muda de cara. Novas ideias, novas possibilidades, cenários, velhos-novos lugares. Passado e futuro em forma de presente.

"Olhai os lírios do campo. Eles não fiam nem tecem e, no entanto, nem Salomão em toda sua glória se cobriu como um deles."











* Last, but not least: AMO vocês!

domingo, 17 de abril de 2011

Toda forma de amor




Minha irmã não suporta feijoada. Gosta de feijão, gosta de linguiça, de lombo... mas não come misturado. Cismou.


Acontece que minha mãe faz a melhor feijoada do mundo. E light. A gente passa o ano todo torcendo pra fazer frio, até chegar o sábado sagrado. Normalmente só um ao ano.


Ontem foi o glorioso dia. Nem fez frio. Mas não tem problema, imagine, quem é São Pedro pra manter a gente longe da panelinha de pressão.


Todo mundo se acabando e minha irmã lá, no feijãozinho, catando, catando.


Ao final, ela olha minha mãe com uma carinha enternecida e diz: "ô mãe, você sabe que eu não gosto de feijoada... mas, se eu gostasse, a sua estaria maravilhosa!".

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O cheiro da música




Saí pra caminhar no início da manhã. No Buritis já começa a aparecer um ventinho frio nesse horário. Pra completar, Lumiar. Música do Beto Guedes que fala sobre uma cidade fluminense. Mas pra mim continua a ter gosto de Minas.


Aliás, toda música do Beto Guedes tem gosto de Minas. E algumas têm cheiro. Lembro uma vez em que chegava ao trabalho, em Brasília, ouvindo Lágrima de Amor. Desci do carro, abri a porta e senti o cheiro da lenha queimada pelo índio que tomava conta dos carros. Pronto. Era o cheiro. Caí em prantos, lembrando das estradas, dos telhados queimados das casinhas, das ruas calçadas com pedra. Das coisas da minha terra.


Lumiar hoje teve um cheiro de dia nascendo. De café feito no fogão a lenha, de broa de fubá, de sereno da noite passada. Do paredão de pedra de Catas Altas. Das cachoeiras de Ipoena. Do coração no morro de Tabuleiro. De fazer trilha no mato cumprimentando todo mundo que você não conhece como se fosse sua família. De comer na cozinha das tias. De dormir pesado na pousadinha de chão de tábua corrida. De passear sem compromisso pelas ruazinhas, quentando sol e jogando conversa fora.


O gosto da simplicidade se parece muito ao da felicidade.