quarta-feira, 23 de junho de 2010

Beco de Baco




Há uns dias, minha irmã Val me acompanhou em uma daquelas hoje incontáveis excursões à Leroy Merlin para comprar material de obra.

Foi muito engraçado. Enquanto eu olhava lâmpadas, questionava voltagem, economia, fui percebendo com o canto do olho que ela começava a se espichar. Conhecendo como conheço a peça, fui tratando de juntar minhas coisas, porque o prazo de validade dela ali havia acabado. Em cerca de 30 minutos.

Então perguntei: mas quem é que vai montar sua casa? Quem vai colocar as coisas do seu jeito? E ela respondeu: ah, para mim de qualquer jeito está bom. Só vou chegar à noite mesmo...

Hoje enquanto voltava da trilionésima visita à obra (falando assim, nem parece que meu palácio é um apartamentinho de poucos metros quadrados...), vim pensando no carro. Obra azeda qualquer cristão. Não tem como escapar; ainda mais se for reforma, dizem os mais conhecedores do tema. A verdade é que nada funciona como você pensou que funcionaria, surgem palavras e rebimbocas que não existem em nenhum dicionário, e tem hora em que o pedreiro faz perguntas cuja resposta você trocaria alegremente por uma extração de unha do mindinho. Todo dia uma azia diferente, um mês, dois meses...

O lado bom disso tudo é que vai acabando. Já começo a sentir a delícia de olhar para a pedra do balcão da cozinha e imaginar a cebola que vou picar para colocar naquela feijoadinha. Olho uma prateleira e já enxergo o abajur que vou fazer com uma garrafa vazia de vinho e umas luzinhas para colocar em cima. Vejo o local do fogão e já sinto o cheirinho do molho de tomate. No quarto vazio já sinto a presença dos amigos visitantes e suas malas, na varanda já ouço as risadas ao som de uma musiquinha e ao sabor de uma cervejinha gelada.

É, Val, ou eu muito me engano ou ainda vou ver seus olhos brilhando na loja de bricolagem. Porque, por mais que o balcão esteja meio torto, que a dobradiça da porta ainda não esteja funcionando, que o cano ainda não esteja perfeito, não existe nenhum lugar no mundo que consiga ser mais lindo que o lugar onde a gente guarda os amigos, os discos e livros...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Festival de Inverno



Eu era uma pessoa muito anti-inverno. Gostava mesmo era do calor, mal via o inverno torcendo para chegar o verão.

Mas, de uns anos pra cá, comecei a perceber as delícias de um friozinho e passei a gostar muito dessa época.

Lembra do post sobre quentar sol? Pois é. Hoje em BH a mínima prevista é de oito graus. Durante a manhã, cheguei a bater queixo. Mal via a hora de chegar o almoço, para depois quentar sol. Aliás, estou escrevendo este post ao sol. Um sol de duas da tarde, já começando a ficar morninho... aquece o corpo e a alma.

E quando o sol se for? Bom, hoje tenho aula até as dez, mas antes vou ter o cuidado de passar no super pra comprar umas coisas e continuar o festival de (pré) inverno. Veja se te agrada:

- Um peito de frango com osso e sem pele
- Meio quilo de mandioca enxutinha
- Duas cabeças de alho
- Uma cabeça de cebola
- Um maço de cebolinha
- Uma pimenta dedo-de-moça
- Creme de leite
- Cogumelos, ervilhas
- Parmesão ralado grosso.

Descasque uma das cabeças de alho, pique a cebola e frite em pouco azeite. Refogue o peito de frango e a pimenta, picadinha. Acrescente um litro e meio de água, aproximadamente, e a mandioca. Ah, pegue a cabeça de alho que sobrou inteira e corte apenas um pedacinho em cima, para expor os dentes. Adicione sal à água e coloque para cozinhar na pressão durante 40 minutos.

Abra e veja se está bom, com cuidado para não queimar a mandioca (estar bom = o frango se derrete e você pode retirar apenas os ossinhos, sem trabalho nenhum). Retire a cabeça de alho inteira e aperte os dentes. Vai sair um creminho maravilhoso que você pode passar em umas torradinhas pra ir beliscando. Abra um vinho, não muito encorpado, para que o gosto não "mate" o sabor do frango.

Se a mandioca não tiver derretido, você pode passar os pedaços pelo mixer ou liquidificador. Acrescente cogumelos picados, ervilhas, aspargos e cozinhe por mais uns dez minutos, mexendo sempre, com a panela aberta.

Pronto. Acerte o sal, acrescente um pouco de creme de leite, polvilhe o queijo ralado e a cebolinha, tome um gole de vinho e ame o inverno!

Ah... já conhece esta receita, né? Bom, então apenas mande uma mensagem dizendo a que horas vem e eu separo uma cumbuquinha, colher e taça para você.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Trem Bom


Na turma do curso de sommelier, o Sérgio se apresentou assim: "estou abrindo um restaurante, mas não entendo nada de cozinha. Eu entendo é de comer. Sou um glutão". Ele estava se aposentando de um banco e, de tanto comer coisas maravilhosas em vários Estados do Brasil, decidiu que queria abrir um restaurante.


Algum tempo passou, todo mundo curioso esperando o fim da reforma e a badalada inauguração. Na primeira semana, aproveitei para levar meu colega Ulisses, baiano proveniente de Brasília, para conhecer a novidade.


Não é um restaurante. É uma história. Você entra por um vagão de trem, com detalhes que deixam a gente meio bobo, como as "janelas" - fotos emolduradas que mostram uma paisagem fotografada em diferentes velocidades, como se o trem estivesse parando; malas incríveis que o Sérgio conseguiu num brechó... e ele sempre ao lado, comentando e dando as dicas.


O buffet foi instalado na "estação", que tem requintes como aquelas lanterninhas antigas, de estação de interior mesmo. E o Serjão continua: veja as luminárias, fui eu que fiz. E a pintura, foi meu sócio. Gente, e a adega! Toda feita com aquelas caixas bárbaras de vinho. E tudo ideia dos três.


Ulisses ficou encantado, tirando foto de tudo que é lado. E eu, que estou reformando meu cantinho, com a cabeça fervilhando de ideias. Uma delas foi tentar entender como é que três homens conseguiram trabalhar tão bem o lado direito do cérebro em um negócio.


Vai ver é porque é mais que um negócio: é um sonho. Fato é que, depois da inauguração, o Sérgio remoçou uns dez anos. Chega sempre cheio de novidades, trabalha de manhã, à tarde e à noite feliz da vida, não se cansa.


Fico pensando como seria se todo negócio fosse assim. Se a gente acordasse para o fato de que o melhor dinheiro do mundo é o que a gente ganha fazendo o que gosta, realizando um sonho.


Acho que eu posso dizer que meu trabalho é a realização de um sonho. Mas preciso confessar que senti uma pontinha de inveja do Serjão e do seu trem bom. Note que eu disse que o meu trabalho é a realização de UM sonho. Escreve aí que um dia ainda vou virar maquinista e servir um café coado na mesa igual a esse da foto. Bom demais, né, Uli?


Um brinde ao Serjão e a seu sonho realizado.


Ópera Clube Gourmet: Av. Olegário Maciel, 1422 - Lourdes - Belo Horizonte