terça-feira, 31 de agosto de 2010

Frida Kahlo



Ela tem bigodes e sobrancelhas grossas como quem deu origem ao seu nome. A diferença é que são branquinhos.

A carinha terna deste presente, o mais inesperado entre tantos em um aniversário mágico, esconde uma personalidade que, em poucos dias, já se mostra forte como a da artista.

Adoro dar nome de gente a bicho, mas este tem um motivo especial. Além de ter sido uma artista incrível, cheia de personalidade e ousadia, a história de Frida Kahlo e Diego Rivera me ensinou a enorme diferença entre fidelidade e lealdade.
Fidelidade é estática. É estar ali ao lado, gostando ou não, feliz ou não. É quase estar amarrado. E isso não se prende apenas à vida amorosa. Tem a ver com amizade, com família, com relações. Todas.

Lealdade é estar ali ao lado porque se quer, quando se quer. E ter a coragem de dizer quando não se quer mais, ou quando se quer, mas não se está feliz com a maneira como as coisas caminham.

Quem é fiel, mas não é leal, acaba traindo. Pode não ser traição física, porque seria infidelidade. Mas é traição de alma. É não dizer o que se pensa por medo de correr riscos, de confrontar, de se indispor, de sair da zona de conforto, mesmo que isso seja uma possibilidade de crescimento. É dizer aos outros, mas não dizer a quem precisa ouvir.

Quem é leal pode até não ser fiel. Mas a diferença é bem clara: quando você é leal, mas não é fiel, o outro é o primeiro a saber, e pode ESCOLHER se aceita ou não. Ser leal é uma prova de coragem. É dar ao outro o direito de discordar de você, de seguir outro caminho, se achar melhor.

Em seus poucos dias de vida, minha doce Frida já parece saber a diferença. Deita-se sobre meus pés como uma pantufinha branca, mas reclama quando quer atenção, mesmo correndo o risco de tomar bronca por resmungar no meio da noite. Talvez por ser filhote, por ter o instinto de sobrevivência pouco aflorado. Sei lá. Acho que a necessidade de sobreviver inibe a coragem de ser leal. É mais uma das escolhas da vida. Viver ou apenas sobreviver.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Família é tudibom






Pois então. O tio-avô da Isa morreu. Aí a mãe foi explicar que o pai não poderia buscá-la, pois precisava dar uma força ao vovô Valter, que estava muito triste.

- Mas triste por quê?
_ Porque o irmão dele morreu, e é triste pensar que a gente gostava daquela pessoa e não vai mais poder vê-la.

E a Isa, do alto da sabedoria dos seus cinco anos:

- Ah, então eu resolvo o problema. Acontece que quando eu olho para o céu, sei diferenciar entre qual estrela é planeta, qual estrela é Deus e quais estrelas são anjos. Eu converso com o vovô Valter e o ensino a encontrar o Tio nas estrelas, daí ele não vai mais ficar triste.
- (...!!!)
- É, né, mãe, mas você sabe que o tio não vai ser anjo pra sempre, né?
- Ah, não?
- Não, né, depois de um tempo as pessoas nascem de novo...

(O resto da conversa eu conto depois, quando tiver maturidade pra absorver o que ela disse...)

*


Força-tarefa para os últimos retoques no meu apartamento novo: eu, meu pai, minha mãe, a Vera e o Seu Geraldo, pintor.

Cada um na sua tarefa, limpando, pintando, lixando, serrando... aí pelas onze da manhã, minha mãe pergunta se alguém quer uma fruta - que ela tinha levado, naturalmente. E eu digo:

- Puxa, o tempo passou rápido, daqui a pouco preciso buscar nosso almoço.
- Você só precisa arrumar um jeito de ligar o microondas...

E olho, entre estarrecida e emocionada, o banquete preparado na véspera, cuidadosamente acondicionado em uma fila de vasilhinhas: arroz, feijão, lombo, couve, legumes. Que foram carinhosamente aquecidos e servidos em pratos e garfos que vieram de casa em uma trouxinha, amarrada por um pano de prato...
Precisa de mais ALGUMA COISA nessa vida???

domingo, 15 de agosto de 2010

Um texto enviado pela Fabi nesta semana falava sobre o estilo estadunidense de trabalhar. Dizia que, quando os russos querem dizer "trabalhando feito um cão", dizem "trabalhando como um americano".

O texto questionava a relação estranha que nossas culturas vêm estabelecendo entre as pessoas e o trabalho. Seguindo a tradição dos EUA, acho que, como dizia Marx, a cada dia ficamos mais alienados em relação ao resultado do nosso trabalho.
Cansados de mofar em escritórios servindo a grandes empresas, há pessoas que têm trocado seus trabalhos intelectuais por profissões mais "manuais", tendo mais contato com o resultado do que fazem, e estão se reapaixonando pelo trabalho.

Apesar de adorar o trabalho do qual eu vivo, confesso que às vezes eu balanço pensando nisso. Hoje, enquanto testava um produto para escurecer a madeira para fazer um acabamento na cozinha, fiquei pensando em quantos ofícios aprendi nesses últimos tempos, movida pela reforma da minha casa.
Com a Carol, aprendi a ser quebra-galho de eletricista. Ela é responsável por este lustre aí da foto, que tem nada menos que vinte lâmpadas e ilumina minha nova sala. Antes que eu terminasse a frase, ela já estava, lá de Brasília, projetando o lustre, conseguindo o material. Ligava tarde da noite, contando que tinha descoberto um jeito de fazer isso, de fazer aquilo. O lustre virou um projeto nas nossas vidas, nos aproximou mais, e me lembra que tenho uma amiga querida, todos os dias quando entro em casa à noite (atenção: o quebra-galho não é ela, sou eu!!!).

Com minha mãe, aprendi a organizar, a transformar um forno antigo em um diamante luminoso. Com meu pai, aprendi a lixar, furar, pintar... a ser versátil, a entender que pra tudo tem um jeito; é só correr atrás. Com minha irmã, aprendi que, mesmo que a gente não seja muito especialista em coisas de casa, o importante mesmo é dizer "tô aqui para o que precisar, é só me dizer e a gente se vira pra fazer". A gente aprende, e tudo acaba dando certo.

Enfim, a cada dia gosto mais de sujar a cara de tinta, serrar umas madeiras, bater uns pregos e ver o resultado. Colocar o lado direito do cérebro para trabalhar dá uma sensação gostosa. Parece que tocar aquele objeto, aquela parede, materializa o resultado do esforço de uma forma mais completa. Será?
Pra pensar... ou pra fazer, sei lá.