domingo, 30 de maio de 2010

Comida


Descobri que corpo de mineiro tem uma coisa diferente: em Minas, comida não vai para o estômago; vai para o coração. Comida tem vínculo com afeição, amizade, formas que o amor assume.

Se você for à casa de um mineiro e ele não te der algo para comer, ainda que seja um salgadinho descongelado, um pedaço de bolo de anteontem, desconfie: ou ele não vai muito com a sua cara ou de repente é meio falsificado...

A primeira vez em que eu cozinhei foi com dez anos. Lembro perfeitamente o dia. Minha tia passou mal, minha mãe foi acudir e, de uma hora para outra, meu pai e minhas três primas viriam almoçar. Como boa mineirinha, eu já tinha feito "estágios", picando cebola y cositas mas; daí olhei para o pacote de macarrão, para a lata de molho (sim, lata de molho, já usei isso, por favor não me censure... rsrsrs) e resolvi que algo deveria ser feito. Bom, meu pai catou até as últimas cebolas da travessa, e naquele momento eu percebi que ver as pessoas felizes em comer o que você faz é mesmo bom.

Percebo que os não-mineiros, não-italianos e outros povos menos comilões têm certa dificuldade em entender por que eu chego meio atrasadinha à festa por ter ficado esperando o pão assar, ao invés de simplesmente passar no supermercado e comprar um belo pão integral. A Cami, que é mineiríssima e feministérrima, não entendia por que diabos eu preferia picar tomate a comprar uma lata de pomarola. Mas a vida ensina, e como ela está em dieta de sal, teve que aprender a cozinhar a própria comida... fazer seu molho de tomate... e, aqui entre nós, parou de negar a raça: anda convidando as pessoas para jantar, e até me pede receitas. Que eu dou com o maior prazer.

Enfim: troco de bom grado uma noite de balada e uma manhã de sono preguiçoso (que eu amo!) por umas horas com a barriga no fogão, e especialmente pelo pedido da Rita ontem: "gente, por favor, agora parem de comer, porque esse pedaço de pão que está em cima da mesa eu vou levar pra casa".

Comida. Muita. Regada a risada, vinho, cerveja, muita bobagem. Balada com panelas é tudo de bom. Com os amigos, os amigos dos amigos... é só botar água no feijão.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Seis


Seis motivos para sorrir:
  • Assistir Friends na TV sábado de manhã
  • Comer brodo feito em casa em uma noite fria
  • Viajar pra onde o nariz apontar, batendo papo com o pé no console do carro
  • Ganhar surpresinha da rua
  • Segurar na mão durante a turbulência
  • Pagar e receber portãozinho

Hoje eu acordei com uma vontade de mandar flores ao delegado...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Varanda do Maletta



Ontem fui tomar umas copas no Copa com o Fá. Depois de fazer amizade com os donos do bar e trocar confidências e dicas de reforma (estou descobrindo uma nova tribo, solidária, que compartilha na maior generosidade dicas pro cimento queimado não quebrar, bons pedreiros, lojas...) resolvemos dar uma esticada num bar na varanda do Maletta.


Mas como assim na varanda do Maletta?


Quem conhece Belo Horizonte sabe que a varanda do Maletta é o corredor das lojas que funcionam lá durante o dia. O Maletta é um prédio comercial, no centrão de BH, com bares por dentro e lojas por fora... risos...


Enfim. Alguém teve a ideia de pegar uma dessas lojas, reformar e fazer um bar mega-charmoso. E com uma música indescritível. Deu vontade de passar a vida ali ouvindo. Pra falar a verdade, não comemos nada, só tomamos umas taças de vinho, temperadas com a gentileza dos donos do lugar.


A cereja do sundae está nesta foto. A varanda coloca a gente praticamente com a cara dentro do prédio em estilo gótico do antigo museu de mineralogia, no meio da selva de concreto. Próxima parada? Fim de tarde de sábado. Já disseram que a vista fica ainda mais bonita. Arqueologia da noite... coisas de beagá. Vamos?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quentando sol





Eu tinha lá uns quatro anos. Mas me lembro perfeitamente da cena. Dias frios de outono, céu azul profundo,eu entrava correndo pela porta da casa da minha avó e a Vera dizia: sua vó tá lá no quintal, quentando sol...

Esqueci essa expressão por muitos anos, até o dia em que a Carlinha, amiga que saiu de BSB pra morar em BH, escreveu, em uma manhã de outono, contando que pela primeira vez na vida se sentia bem em ficar sentada ao sol na hora do almoço... era quentinho e confortável. Daí eu me dei conta de que isso era meio raro na hora do almoço em Brasília, ao menos não no Plano Piloto. Se você se senta ao sol ao meio-dia, em qualquer época do ano, muda do estado sólido para o líquido em fração de segundo.
Estou aqui pensando... será que é tão difícil largarmos nossos computadores enfurecidos e cheios de janelinhas e nos dar cinco minutos de tranquilidade e conforto, sentindo o quentinho do sol? Por que será que fazer isso é tão difícil, mas responder dez emails ao mesmo tempo parece tão fácil?

Hoje faz sol em BH. O céu está impecavelmente limpo, ainda em um tom azul-claro. Faz um friozinho de uns 15 graus. Olho pela janela e vejo o sol entrando... que delícia. Na hora do almoço vou quentar sol. Amo muito tudo isso!

domingo, 9 de maio de 2010

De Brasília



Clarice Lispector dizia que Brasília é uma prisão a céu aberto.

Para mim sempre foi. Tudo bem que em regime semi-aberto, e diversão nunca faltou. Porém, foi uma temporada, teria data para acabar. Minha alma não pertence ao dia-a-dia daqui.

Mas uma coisa que não posso deixar de ser é grata a esta cidade por ter me proporcionado a coisa mais preciosa do mundo: novos amigos. Amigos de verdade.
Amigos que estiveram ao meu lado desde o primeiro dia, dividindo as angústias, somando as alegrias. Amigos que foram para longe, mas continuaram por perto. E mais amigos que foram surgindo ao longo do tempo. Não tem nada melhor que viajar e ter alguém de quem sentir saudades. Brasília me deu isso. E continua a dar.

Nestas noites frescas e manhãs quentes de maio, agradeço ao Planalto Central por me mostrar como são preciosos os amigos que fiz neste lugar e, principalmente por me dizer, mais uma vez, quem é cada um deles. Por ter me dado de presente uma semana de encontros, sorrisos, convites, gargalhadas, lágrimas, abraços, beijos, telefonemas, até mesmo posts de facebook cheios de carinho.

Onde quer que esteja, cada um destes irmãos que eu escolhi sabe que vou novamente com o coração feliz, cheio de saudades, e os braços loucos por se abrir e apertar com força cada um deles no próximo encontro.

sexta-feira, 7 de maio de 2010



"Sou uma filha da natureza:quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo,de um mistério. Sou uma só... Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo."

Clarice Lispector

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Fantástica Fabriquinha Voadora de Leis



No Brasil tem lei que pega e lei que não pega. Isso todo mundo sabe. Todo mundo sabe também que tem pessoas, físicas e jurídicas, que optam descarada e tranquilamente por ignorar ou burlar a lei, encarando isso como parte da estratégia de negócio.

Mas o que eu não sabia e descobri hoje é que agora tem empresa criando lei. Isso mesmo! Rapidinho, sem votação, como se faz um pão de queijo!


Sou conhecida entre minha família e amigos por recusar-me a ficar quieta quando sou lesada, especialmente em meus direitos de consumidora. Brigo, exijo, abro processo. Até hoje só perdium. Acho que isso é parte do meu papel para tentar conseguir que o País melhore um pouquinho.


Na semana passada fui a uma audiência com aquela tradicional companhia aérea que não sabe que existe Lei no Brasil. Ok, todas são mais ou menos assim, mas tem aquela nossa amiga que não faz a menor questão de tentar disfarçar que vive à margem dessas "coisas".


Você acredita que o advogado teve a coragem de anunciar, em alto e bom som, dentro do juizado e na frente do conciliador, que, uma vez que a empresa escreveu no contrato que está violando a Lei, ela pode violar a Lei? Funciona mais ou menos assim: se você fizer um contrato com alguém estabelecendo que vai sair pelado correndo pela rua, em pleno meio-dia, isso deixa de ser atentado violento ao pudor! Não é incrível?


E o mais incrível disso tudo é que, quando eu comecei a rir e o conciliador disse que isso ia contra a Lei, o advogado deu uma bronca danada, pois achou que o conciliador não tinha direito a dizer isso. Ah, já sei, deve ser outra "lei" da empresa laranjinha... além de transformar o errado em certo, eles também transformam o certo em errado. Como dizia o Zé Simão, vai indo que eu não vou. Aliás, vou: daqui a uns dias conto o resultado do processo.