Se você for à casa de um mineiro e ele não te der algo para comer, ainda que seja um salgadinho descongelado, um pedaço de bolo de anteontem, desconfie: ou ele não vai muito com a sua cara ou de repente é meio falsificado...
A primeira vez em que eu cozinhei foi com dez anos. Lembro perfeitamente o dia. Minha tia passou mal, minha mãe foi acudir e, de uma hora para outra, meu pai e minhas três primas viriam almoçar. Como boa mineirinha, eu já tinha feito "estágios", picando cebola y cositas mas; daí olhei para o pacote de macarrão, para a lata de molho (sim, lata de molho, já usei isso, por favor não me censure... rsrsrs) e resolvi que algo deveria ser feito. Bom, meu pai catou até as últimas cebolas da travessa, e naquele momento eu percebi que ver as pessoas felizes em comer o que você faz é mesmo bom.
Percebo que os não-mineiros, não-italianos e outros povos menos comilões têm certa dificuldade em entender por que eu chego meio atrasadinha à festa por ter ficado esperando o pão assar, ao invés de simplesmente passar no supermercado e comprar um belo pão integral. A Cami, que é mineiríssima e feministérrima, não entendia por que diabos eu preferia picar tomate a comprar uma lata de pomarola. Mas a vida ensina, e como ela está em dieta de sal, teve que aprender a cozinhar a própria comida... fazer seu molho de tomate... e, aqui entre nós, parou de negar a raça: anda convidando as pessoas para jantar, e até me pede receitas. Que eu dou com o maior prazer.
Enfim: troco de bom grado uma noite de balada e uma manhã de sono preguiçoso (que eu amo!) por umas horas com a barriga no fogão, e especialmente pelo pedido da Rita ontem: "gente, por favor, agora parem de comer, porque esse pedaço de pão que está em cima da mesa eu vou levar pra casa".
Comida. Muita. Regada a risada, vinho, cerveja, muita bobagem. Balada com panelas é tudo de bom. Com os amigos, os amigos dos amigos... é só botar água no feijão.