quarta-feira, 28 de abril de 2010

Confraria

Faz um ano mais ou menos que eu organizo compras de vinhos entre amigos. Funciona assim: eu recebo o catálogo da vinícola, envio aos amigos, cada um faz seu pedido, eu consolido, compro e, quando chega, eles buscam.

Dia desses minha mãe comentou isso com uma conhecida que gosta de vinhos e ela perguntou se eu revendia, quanto eu cobrava pelo trabalho de fazer essas compras, porque ela queria também. Não, eu não revendo... nem cobro nada. Aí alguém que estava por perto perguntou: então por que você faz isso, se dá tanto trabalho? Ahn... sei não.

Semana passada chegou a "leva" deste mês. Avisei às pessoas e vieram buscar; algumas passaram quando eu não estava em casa. Mas a Sil veio no fim da tarde de uma sexta "pilhada". Gente, há quanto tempo ela não aparecia em casa... e quanta coisa tínhamos pra conversar. Coisas que não cabem em email nem telefone. Histórias sobre o charme do Gabi fazendo teste pra modelo, sabendo que é o mais bonito. Muita coisa pra por em dia. Convite pro lançamento de um livro maravilhoso no sábado em um lugar novo e delicioso na Savassi. Novas pessoas. Novas ideias. Talvez futuros livros.

Hum, acho que eu descobri por que faço essas encomendas de vinhos.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

WTF?



Ele é um sujeito bem legal, cheio de moral. Tipo do cara que batalhou e batalha muito, se fez na vida, conquistou coisas legais sem perder a simplicidade. Fala na lata mesmo, mas com a maior delicadeza. Luta vale-tudo mas tem uma coleção de gravatas pelas quais eu mataria. Uma mistura assim de shrek com Sean Connery fazendo aquele James Bond das antigas.


Ela eu não conheço pessoalmente. Só pelos olhos dele. Psicóloga, independente, inteligente, bonita, disputada...


Um é doido pelo outro e eu sei de tudo. Mas um não consegue entender que o outro é doido por ele. Simples assim: não consegue aceitar, não consegue confessar, não consegue. Não consegue dar o primeiro passo.


Ele quer que ela se abra mais, se declare, se derreta. Com suas orelhinhas verdes de ogro, dá um suspiro e me conta os milhares de sonhos românticos, as flores que gostaria de receber, os sequestros de que gostaria de ser vítima. Mas só conta pra mim. De resto, calcula cada pingo nos is que fala com a moça.


E ela, por sua vez, não fica atrás. Não posso porque tenho que sair com minha amiga. Não te liguei, mas por que você também não ligou? Ah, como eu proporia algo no seu aniversário, nem sei se você quer sair com seus amigos...


E eu aqui, assistindo o pingue-pongue, sem saber se rio com essa ceninha ridícula de morrer de paixão e ao mesmo tempo ficar contabilizando olhares, ou choro, porque vejo as coisas se desgastando e a "desalquimia" de amor virando ódio se aproximando.


Ai, gente, que saco esse jogo de gato e rato que começou com a invenção da pílula e a queima dos sutiãs! Será que ninguém mais chora por amor, será que ninguém mais faz serenata na janela pra toda a vizinhança assistir, será que ninguém mais se expõe? Será que o medo da rejeição é tanto que ninguém percebe que economizar o calcanhar de aquiles é a fórmula certa da rejeição?


Estratégia tem limite, amor não é jogo de soma zero, não pode ser... Aproveite o finde, abra o coração, exponha a alma, se arrisque e arranque seus cabelos de tanto amor.

domingo, 11 de abril de 2010

Borboletas no Estômago



Semana animada. Início do encerramento (ficou engraçado, não ficou?) de um trabalho muito gratificante em São Paulo. Aliás, em São Paulo, nada; no mundo todo, se Deus quiser.

Esses finalmentes sempre me emocionam. Mas eu tenho o hábito de ficar calada e disfarçar os olhos cheios d'água, porque normalmente sou a única. Ah, mas na sexta eu fui apenas mais uma.

Ao início da reunião, quando vimos o filme sobre a expansão da presença das editoras brasileiras no mundo, mostrando as iniciativas, os eventos, as conquistas, achei que as luzes se acenderiam e o programa seguiria normalmente, falando sobre marca, imagem, planejamento.

Ledo engano: quando minha cliente pegou o microfone, a voz embargada não conseguiu esperar nem cinco palavras. Meus olhos marejados passaram dos dela ao de cada membro do comitê de planejamento, que passavam os dedos sob os olhos e faziam "snif". Pronto. Estava em casa.


Choro, sim, fico emocionada, sim, quando vejo o quanto fizemos nesses três meses de trabalho duro. Sou um misto de especialista com generalista; marketing internacional é um mercado ainda nascente e cheio de especificidades, mas, por outro lado, imenso: cada projeto me lança em um mundo novo, que vai desde produtos tangíveis, como calçados, até o compartilhamento de idéias, de cultura, estilos de vida, que é o conteúdo editorial. Por isso, há não sei quantos anos, cada início de projeto tem aquele friozinho na barriga, aquele medo secreto de não conseguir entender, ou de não me fazer entender.

Na mesma sexta, mais de doze horas depois, já em BH, em um boteco com amigos, percebo que tenho companhia. Um jovem roteirista me conta que acaba de iniciar seu primeiro trabalho... e o relato da sua angústia-felicidade é exatamente o roteiro das minhas sensações nesses últimos três meses. Ou três anos. Ou treze. Sei não.

Que delícia é sair para uma reunião pensando, aliás sentindo "oba". Que delícia é trabalhar com gente que se diverte tanto quanto você, e que quando o final do planejamento se aproxima - e, com ele, o início de uma nova realidade - se emociona. Que delícia é a gente se sentir criança a cada novo começo. E encerrar mais um ciclo ganhando novos amigos, fortalecendo velhas amizades e sabendo que vem aí mais um lote de borboletinhas.

domingo, 4 de abril de 2010

Doce que nem o Chico



Fui ver o filme do Chico. Confesso que já saí de casa gostando dele. Já tinha lido e adorado o livro do Marcel Soutto Mayor, presente da saudosíssima Del e, juntando a isso o fato de eu ser espírita, tornei-me bastante suspeita... risos... Em minha defesa, comento que vi o do Bezerra de Menezes e detestei.

Adorei. Emocionante, OK, mas sem ser piegas. E com toques divertidíssimos do guia do Chico, Emmanuel, que apareceu no filme do jeitinho (e com as caras e bocas) que eu o imaginava.

Não sei se você sabia, e nem aparece isso claramente no filme, mas o Chico nunca matou um dia sequer de trabalho como escriturário da Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo. Até aposentar. Ele trabalhava de dia e à noite praticamente não dormia psicografando, dando dois expedientes.

Mesmo para quem não é espírita e não acredita em mediunidade ou reencarnação, não há como negar o quanto o sujeito era especial. Um batidão desses, mais as broncas do Emmanuel, e ele com a melhor cara do mundo, o tempo todo. Uma das melhores passagens do filme é quando o Chico estava voando para São Paulo ou Rio, e o avião entra em turbulência forte. Ele fica com medo, reza, grita e de repente aparece o Emmanuel, caminhando no avião: "você chamou, eu vim. O que é?". "Como assim o que é", responde o Chico, "eu estou em perigo de vida". E o Emmanuel: "você e mais um monte de gente, isso não é privilégio só seu" (detalhe que ninguém mais no avião via o Emmanuel, então seria uma cena engraçada, não fosse a situação). Aí o Chico continuou a gritar de medo e o Emmanuel soltou esta "filho, se você está mesmo morrendo, pelo menos morra com educação. Cale essa boca!".

Assistir a esse filme me deixou com vergonha de pedir alguma coisa a Deus quando eu rezo. Tenho muito, tenho demais, e faço bem menos do que devia com o que eu tenho. Me mostrou como é difícil, mas como é importante reagir com doçura, ou pelo menos controlar a agressividade quando as pessoas pensam diferente da gente. Enfim, propostas e reflexões de Páscoa que eu queria compartilhar com você, comendo um pedaço desse bolinho aí em cima (que, como contei no outro post, era pra ser colomba, mas não encontrei fôrma).

Então, desejo para nós mais que uma feliz Páscoa, mesmo porque o domingo já está acabando, mas um feliz efeito da Páscoa, inspirado pela doçura do Chico, neste restinho de ano que começa hoje.

E, pra não perder a pimentinha, fico aqui cruzando os dedos para que o filme do Chico dê um merecido banho de audiência no filme do Lula - que tenho o gosto de dizer que não assisti, nem pretendo assistir.