segunda-feira, 14 de novembro de 2011




Aprendi uma conta redondinha com meu primeiro chefe, numa agência de publicidade: seu dia tem 24 horas. Oito você passa dormindo. Das 16 que sobram, metade você passa no trabalho. Então, dê um jeito de se divertir com o que faz.

Nesse fim-de-semana, rolou de novo um assunto que, a cada dia, faz mais diferença na minha vida. Não sei se é assim com todo mundo, mas vira e mexe, ele aparece. É o tal do fazer o que gosta.

Acho que nos últimos tempos, com a globalização, os super-empregos viraram objeto de desejo. Quem não quer ser um super-executivo, estar em um dia em Londres, no outro em Pequim, rodar o mundo, conhecer outras culturas...? No início do século 21, parece que qualquer mortal queria isso.

À medida que as pessoas foram realizando o sonho, aquela velha história de a grama do vizinho parecer mais verde acabou tomando corpo. Primeiro, esses executivos se deram conta de que, para usufruir dos benefícios, seriam necessários sacrifícios. Talvez sacrificar o sonho de ter uma família, talvez não ter mais vida particular, nem saúde... preços diferenciados. Tem gente que se desdobra e consegue manter o equilíbrio. Tem gente que adora, porque a proposta casa com seu estilo de vida. Mas parece que uma parte desses executivos começou a questionar se valia a pena pagar o preço.

Em todos os níveis, algumas pessoas começaram a descobrir que determinadas propostas de trabalho não são tão divertidas quanto parecem... perceberam que às vezes é necessário abrir mão de pessoas, coisas, e até mesmo valores importantes, a partir de um certo momento. Dessas pessoas, algumas acharam que não tinha jeito e decidiram seguir. Mas começaram a surgir uns malucos que simplesmente decidiam voltar atrás, ou mudar de direção, e deixar a definição quase inquestionável do sucesso para ter uma vida menos movimentada, ou até mesmo mais movimentada. Mas, sobretudo, mais simples.

Dá medo. Dá medo em quem decide, dá medo na família, dá medo nos amigos. Demanda muita coragem deixar alguns bons milhares de dólares, ou de reais, uma carreira em franca ascensão, pela insegurança de um novo caminho.

Aliás, será? O que é que demanda mais coragem: mudar de vida quando você percebe que não está se divertindo ou se condenar a permanecer infeliz até se aposentar? Vale mais a pena correr o risco de ser mais feliz ou viver com a certeza de não ser?

Parece que a geração Y veio de fábrica com uma percepção diferente do trabalho. Dizem que os Y são temperamentais, caprichosos, mas eu acho mesmo é que eles descobriram que não temhá poder ou dinheiro que compre a felicidade. É como diz o Barão Vermelho, em "Amor pra Recomeçar":

Desejo
Que você ganhe dinheiro
Pois é preciso
Viver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem...


Eu acho que funciona. Nunca fui super-executiva, mas já andei chutando meus baldinhos e dando consultoria a uns tantos empreendedores que também chutaram. Fiz uma vez, fiz de novo, e não há nada que eu possa dizer, na vida, com maior certeza: é incrível sair pra trabalhar com o coração disparado, naquela mistura de medo, ansiedade e prazer com o que vem pela frente. É muito legal quando clientes e colegas se transformam em cúmplices, companheiros de caminhada. Crescer junto é muito bom. E melhor que isso é chegar ao fim do ano, olhar para o que aconteceu e pensar: "cara, além de tudo eu ganho pra isso".

É isso aí. Precisa amor pra recomeçar. Precisa se amar muito. Precisa saber que a própria felicidade é preciosa o suficiente para valer o risco. Precisa responsabilidade. Precisa coragem pra empreender, pra se dispor a abrir mão da segurança em busca do sonho...

... porque sonhos não têm preço. Têm valor.

domingo, 25 de setembro de 2011

Como o céu é do avião



Quando eu morei em Barcelona, descobri que piquenique é in. Sim, porque a gente aqui no Brasil ficava cheio de dedos, levar isso é farofa, levar aquilo é farofa... pois do lado de lá do "corguinho" o povo não está nem aí. Em dias ensolarados, todo mundo vai de mala e cuia pras praças e parques, forra uma bela toalha, abre sua garrafa de vinho, belisca e aproveita pra ser feliz. Só aqui a gente fica nessa frescura de farofa. Ou ficava.


Nos últimos anos tenho achado muito legal o que tem acontecido nas praças e parques de BH. O povo antes olhava com uma cara engraçada, mas agora a cada dia tem mais gente que sai pra ouvir um jazz levando a família, canga, caixa térmica, umas belas cervejas e uns belisquetes. Até o cachorrinho, todo arrumadinho, de bandana no pescoço. Como diz a Bina, minha prima, esses "programas utópicos" de que a Vick gosta - utópicos porque todo mundo fica com vontade de ir, mas acaba não indo.


Este finde foi muito utópico. Na sexta, seresta em Santa Tereza: os VIPS, Valdirene e... Vanderlei Cardoso! A coisa mais democrática do mundo, tudo de bom, com direito a show de dança de salão, oferecido por um casal de sessentões do arco da velha. A dançarina parecia voar. E tudo muito tranquilo e confortável, nem muito cheio nem muito vazio, uma noite quente e perfeita.


Hoje foi dia de Praça do Papa. Projeto "Aqui Jazz", patrocinado por... um cemitério! Tirando o trocadilho cem quilômetros pra lá de infame, foi sensacional. Fazia um frio, ventava, todo mundo no solzinho, feliz, ouvindo um espetáculo de banda.


Feliz da cidade em que o povo bota a cara na janela, se encontra na rua. Acho que esses eventos utópicos matam um pouco a saudade de um tempo que eu não vivi.


Ah, essa foto é da Praça do Papa. O jazz de hoje foi lá.