sábado, 7 de fevereiro de 2015

Pequi

A família da minha mãe é de Montes Claros, norte de Minas, o que significa que gostar de pequi é uma característica quase genética, e não gostar de pequi é quase uma ofensa.


Almoço de sábado, meu pai e meu tio, setentões, olhando a panela de pequi:

- Antonino, a gente que casa com moça de Montes Claros precisa aprender a comer pequi.
- Prefiro comer a moça de Montes Claros.

Entendendo o Posicionamento





No clube, meu pai encontra o filho de um amigo, meu coleguinha na infância. Conversa vai, conversa vem, ele pergunta "mas e a Ana Vitória?". Daí meu pai fala sobre mim, minha vida, meu trabalho. "E onde fica o escritório dela?"

Seu Antonino não titubeou: "Nas nuvens".

Não é que ele entendeu direitinho o conceito?

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Espremendo o limão





Minha mãe tem 74 anos. Há um tempo ela apareceu com uns tremores na mão e imediatamente todos ficamos neurados, com medo de parkinson, alzheimer, essas coisas. Aí meu pai a levou ao médico, que pediu uma tomografia e marcou o retorno.

No dia da famigerada consulta, eu e minha irmã ficamos ansiosas esperando o telefonema de retorno. Daí pelo fim da tarde minha irmã liga, anunciando o resultado: mamãe está bem, não tem nenhum problema neurológico, é apenas coisa da idade. O neurologista recomendou consultar um geriatra, etcétera e tal.

Mas o melhor vem agora.

Quando minha irmã disse "nossa, mãe, que bom que é 'veiêra', agora é só consultar um geriatra", a tiazinha de 74, repito 74 anos, sem um fiozinho de cabelo branco aparecendo e francesinha impecável nas mãos, deu um pulinho e passou o sabão: "é, mas não espalha, tá?".

Sabendo do ocorrido, corri pra ligar na casa dela pra tirar ondinha: "mãe, mas que ótima notícia, saber que você apenas está gagá!". E ela "uai, mas isso todos nós já sabíamos, né?". 

Pois é. A velhinha e as capirinhas. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

E se não fosse a Carolina


Tá. Ela é uma cidadã. Paga impostos como todo mundo. Sofreu invasão e um roubo, o que é crime.

Até aí, tudo bem.

O que me incomoda profundamente é a possibilidade de que o roubo das fotos dela pela internet tenha sido esclarecido no tempo relâmpago de uns três dias só porque ela é parte do olimpo.

 

Também me incomoda profundamente o fato de ter sido roubada uma semana antes dela, de saber como encontrar quem roubou e de já ter sido informada de que a polícia não vai fazer nada.

E, pra dar aquela pimenta nessa gororoba, ainda tem a cobertura patética e sensacionalista da Globo, anunciando o caso como se fosse algo novo, surpreendente, interessante.

Ah, gente, convenhamos: quem em seu perfeito juízo baixa um arquivo executável e ainda envia seu login e senha para um desconhecido?

Queria ver se não fosse a Carolina. Se fosse a Conceição, que apanha do marido; se fosse a Cristiana, que ontem foi assaltada e hoje tem que passar pelo mesmo lugar, desviando do mesmo ladrão para não ser roubada de novo. Se fosse a Cristina, que é extorquida todos os dias pelo banco. Se fosse a Carla, que custou a comprar uma geladeira e ela nunca funcionou.

Queria saber se em três dias o problema estaria resolvido. Se passaria na TV.

Tenho vergonha em reconhecer que, enquanto na França o novo presidente corta em 30% seu salário e o da sua cúpula, no Brasil a polícia se movimenta toda por uma meia duzia de fotos de uma celebridadezinha mimada. E o resto da barbárie continua a acontecer sem que ninguém se mova. Prontofalei.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011




Aprendi uma conta redondinha com meu primeiro chefe, numa agência de publicidade: seu dia tem 24 horas. Oito você passa dormindo. Das 16 que sobram, metade você passa no trabalho. Então, dê um jeito de se divertir com o que faz.

Nesse fim-de-semana, rolou de novo um assunto que, a cada dia, faz mais diferença na minha vida. Não sei se é assim com todo mundo, mas vira e mexe, ele aparece. É o tal do fazer o que gosta.

Acho que nos últimos tempos, com a globalização, os super-empregos viraram objeto de desejo. Quem não quer ser um super-executivo, estar em um dia em Londres, no outro em Pequim, rodar o mundo, conhecer outras culturas...? No início do século 21, parece que qualquer mortal queria isso.

À medida que as pessoas foram realizando o sonho, aquela velha história de a grama do vizinho parecer mais verde acabou tomando corpo. Primeiro, esses executivos se deram conta de que, para usufruir dos benefícios, seriam necessários sacrifícios. Talvez sacrificar o sonho de ter uma família, talvez não ter mais vida particular, nem saúde... preços diferenciados. Tem gente que se desdobra e consegue manter o equilíbrio. Tem gente que adora, porque a proposta casa com seu estilo de vida. Mas parece que uma parte desses executivos começou a questionar se valia a pena pagar o preço.

Em todos os níveis, algumas pessoas começaram a descobrir que determinadas propostas de trabalho não são tão divertidas quanto parecem... perceberam que às vezes é necessário abrir mão de pessoas, coisas, e até mesmo valores importantes, a partir de um certo momento. Dessas pessoas, algumas acharam que não tinha jeito e decidiram seguir. Mas começaram a surgir uns malucos que simplesmente decidiam voltar atrás, ou mudar de direção, e deixar a definição quase inquestionável do sucesso para ter uma vida menos movimentada, ou até mesmo mais movimentada. Mas, sobretudo, mais simples.

Dá medo. Dá medo em quem decide, dá medo na família, dá medo nos amigos. Demanda muita coragem deixar alguns bons milhares de dólares, ou de reais, uma carreira em franca ascensão, pela insegurança de um novo caminho.

Aliás, será? O que é que demanda mais coragem: mudar de vida quando você percebe que não está se divertindo ou se condenar a permanecer infeliz até se aposentar? Vale mais a pena correr o risco de ser mais feliz ou viver com a certeza de não ser?

Parece que a geração Y veio de fábrica com uma percepção diferente do trabalho. Dizem que os Y são temperamentais, caprichosos, mas eu acho mesmo é que eles descobriram que não temhá poder ou dinheiro que compre a felicidade. É como diz o Barão Vermelho, em "Amor pra Recomeçar":

Desejo
Que você ganhe dinheiro
Pois é preciso
Viver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem...


Eu acho que funciona. Nunca fui super-executiva, mas já andei chutando meus baldinhos e dando consultoria a uns tantos empreendedores que também chutaram. Fiz uma vez, fiz de novo, e não há nada que eu possa dizer, na vida, com maior certeza: é incrível sair pra trabalhar com o coração disparado, naquela mistura de medo, ansiedade e prazer com o que vem pela frente. É muito legal quando clientes e colegas se transformam em cúmplices, companheiros de caminhada. Crescer junto é muito bom. E melhor que isso é chegar ao fim do ano, olhar para o que aconteceu e pensar: "cara, além de tudo eu ganho pra isso".

É isso aí. Precisa amor pra recomeçar. Precisa se amar muito. Precisa saber que a própria felicidade é preciosa o suficiente para valer o risco. Precisa responsabilidade. Precisa coragem pra empreender, pra se dispor a abrir mão da segurança em busca do sonho...

... porque sonhos não têm preço. Têm valor.