quarta-feira, 31 de março de 2010

E, por falar em chocolate... tome pimenta!

Este é um post técnico-sentimental. Por isso me vejo obrigada a inverter a ordem da historinha, para começar pelo técnico.

Consegui hoje um tempo para comprar uns chocolates e formas para fazer colombas. Não gosto de dar ovos de Páscoa de presente; todo mundo normalmente ganha muitos, enjoa, e colomba é diferente, para horas diferentes. Prefiro.

Pois não é que, chegando à loja, descubro que não têm formas de colomba? Bom, conforme dizia um amigo acadêmico, já ia me penitenciando por ter chegado tão na última hora. Logo eu, que acordo, como e durmo planejamento. Mas antes que eu começasse, a moça emendou: neste ano não recebemos formas de colomba... nem fulano, nem sicrano, nem no mercado... gente, alô, atenção!!!?? Quando é que as pessoas estão calculando seus estoques? No domingo de Ramos??? Em pleno 2010? Será que no Natal as fôrmas da Páscoa já terão chegado?

Enfim, agora vamos à parte sentimental. Como disse, inverti a história; agora voltemos. A loja fica do lado esquerdo da rua e tem um estacionamento para três carros sobre a calçada. Quando cheguei, um carro se preparava para sair, de modo que emparelhei com a calçada logo abaixo e fiquei aguardando.

O moço precisava sair de ré. Mas "cadê" que alguém deixava passar? Então decidi abaixar o vidro direito e abordar sorridente o motorista ao lado, pedindo que aguardasse um pouquinho para que o outro saísse. Para minha surpresa, a criatura começou a tentar justificar o porquê não deixaria: falou que estava muito perto e eu disse que dava para ele descer; que tinha gente atrás e eu, com ainda mais dentes no sorriso, disse que ele tinha um metro. Por fim, o sujeito arrancou. Muito fino! Bom, em vista do insucesso, dei mais um sorriso para o próximo motorista e fiz novamente o pedido; mas dessa vez o legume nem explicou: olhou nos meus olhos e simplesmente arrancou.

Ah, gente, haja paciência! Nem falo sobre gentileza urbana ou coisa do tipo, que são conceitos muito sofisticados pra esse tipo de motorista. É falta de educação mesmo, daquela básica, quase confundível com coordenação motora.

Parem o mundo que eu quero descer!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Hoje é Dia do Chocolate!



Eu não sabia que hoje era dia do chocolate. Mas foi. Literalmente. Cheio de doçura, deixando aquele gosto bom na boca.

Primeiro por causa do Iuri, que desde ontem vem falando que eu estou demorando a postar. Depois pela Silvinha, que mandou um pastelzinho de chocolate do Maurilo, cobrando: e aí, seu blog é de chocolate, hoje é dia do chocolate, não vai escrever nada?

Que delícia isso de saber que as pessoas lêem, que algumas gostam.

Sexta feliz, cheia de notícias boas, trabalho rendendo, muita diversão com a Fê. Pra coroar o dia, a Renatinha pergunta se eu tenho algo programado pra de noitinha.

A Renatinha. Aquela que é um bombocadozinho, tem dois filhos, que é psicóloga, tem consultório, e também dá aulas à noite. Sim, aquela que corre, faz pilates e hidroginástica. E que quebrou a patinha na semana passada e ainda por cima levou uma trombada monstra de carro ontem. Ela mesmo. Consegue pensar em sair com uma amiga pra matar as saudades no dia seguinte. Como é que alguma coisa que a gente tenha marcado existe quando a gente recebe um convite de uma figura destas numa noite de sexta?

Saindo de casa, tomei uma mega fechada de um taxista. Daquelas de fazer a gente perder o controle. Quando cheguei pra encontrar a Renatinha, minhas mãos ainda tremiam, apesar de eu já ter atravessado a cidade. Mas de repente o taxista sumiu. E sumiram a patinha quebrada, o carro amassado, até o arranhão no braço. Nada disso tinha acontecido. Tinham acontecido o Léo, a Isabella, as aulas, a corrida, os amigos, a publicidade... uma caixa inteira de chocolates. Nada mais doía ou incomodava, a gente só ria, se divertia, se assustava com tantas novidades uma da outra. Engraçado como tem gente que não deixa de ter a ver com a gente nunca. Faz tantos anos que conheço a Renatinha, tão poucas vezes nos encontramos pessoalmente, mas cada encontro é um banho de endorfina, uma sintonia incrível, parece que a gente se viu ontem.

Cheguei em casa feliz, lembrando de cada chocolatinho colorido da caixa de hoje.

Silvinha e Iuri, obrigada pelo carinho da "pressão". Quando eu ganhava a vida escrevendo, muitas vezes não sabia se alguém lia. Hoje, sabendo que vocês estão lendo, definitivamente ganhei o dia.

sábado, 20 de março de 2010

Simplicidade

Tem um comercial da Rede Globo Minas no ar, com uma música do Pato Fu que se chama simplicidade. É uma delícia, dá até pra sentir o cheiro do fogão de lenha quando a gente escuta.

Tem uma parte que diz assim: "Café tá quente no fogo/Barriga não tá vazia/Quanto mais simplicidade/Melhor o nascer do dia".

Domingo passado eu descobri um buraco na minha vida espiritual. E dizem que, quando você descobre que precisa mudar algo e toma a decisão, o universo conspira a favor. Naturalmente, na segunda a Sil mandou um email convidando pra fazer pão na Magui.

Acabo de voltar de lá e só posso dizer que nenhuma experiência gastronômica se iguala a um tabletinho de fleischmann, uma colher de açúcar mascavo, três xícaras de farinha, uma de água e uma pitada de sal. De tantas frases e momentos que me tocaram ao longo do dia, não vou esquecer a Magui dizendo que o pão é a união dos quatro elementos: a terra, no trigo, o ar, no fermento, o fogo, no calor do forno, e a água.

Que coisa maravilhosa é ter essas fadas em Minas, que, em um sítio em Moeda, ou nas centenas de cozinhas das casinhas pelo interior do Estado, abrem suas casas e preparam uma alquimia inacreditável, transformando farinha, ou feijão, ou quiabo, ou banha de porco, e principalmente almas, em ouro.

Não é chique, não é sofisticado, é simplérrimo. Mas pode ser dificílimo. A Magui dizia hoje que, quando fazia o pão durante a semana, às duas da tarde, e as pessoas vinham do trabalho, ele não crescia. A mesma matéria, diferente energia.

Voltando a BH, fui compartilhar com minha mãe a vivência e as emoções do dia, e ela disse sabiamente: dom que não se compartilha se perde.

Talvez o ingrediente mais rico do paladar deste pão e de todas as iguarias que sempre enfeitiçaram a nós, mineiros, nas casas de nossas avós, mães e tias, seja esse dom, essa energia da partilha, que faz crescer qualquer pão mesmo em dia de chuva.

Hoje o pão cresceu. Gerou vivências, depoimentos lindos, conversas, e principalmente plantou sementes. A ordem é comer durante sete dias, mas eu acho que minha alma terá pão, no mínimo, para o ano todo. Naturalmente, se eu conseguir ter a sabedoria de conservá-lo.

Deo Gratias

terça-feira, 16 de março de 2010

O Elo Perdido


Hoje no curso de sommelier eu aprendi sobre a origem do enochatus vulgaris.
Meu primeiro contato com o tal "mundo do vinho" foi quando tive um cliente que produz vinho em La Rioja, Espanha. Queria trazer o produto para o mercado brasileiro.

Buscamos o Alex no aeroporto. Um espanhol simpático, diretor de uma vinícola conceituada, trazendo na mão seis preciosas ampolinhas. Naquele tempo podia. Hotel na Savassi, muito bom e bem localizado. Mas na primeira noite o Alex me liga pelas 22 horas, pedindo encarecidamente que eu lhe conseguisse um hotel cujo ar-condicionado não fizesse tanto ruído. Que sujeito exigente, pensei... mas ok, mudamos de hotel. Ainda na Savassi.


Tendo em vista que ele ficaria por uma semana, comecei a orientá-lo sobre as atrações para as horas vagas: livrarias, shopping, lojas. E ele respondeu: Vick, eu não vou sair à rua. Mas aí já era demais. Como assim o sujeito é tão cheio de coisas que nem à rua ele sai? Como ele vive percorrendo o mundo e não sai do hotel? Tive que perguntar. E ele contou: olha, eu moro em uma cidade que tem menos de 400 habitantes. Álava é murada; não entram carros. Eu cresci no campo, cheirando bosta de vaca, meus amigos são os mesmos até hoje. Por isso não gosto da rua. Tenho receio.

Então o Alex começou a me contar que a família dele, que cultivava uvas, faliu, e todos se mudaram para a cidade. Menos ele, que queria muito trabalhar com aquilo. Aí ele começou a trabalhar na colheita em alguma vinha. Depois estudou agronomia, depois montou uma toneleria. Aí foi trabalhar nessa vinícola e foi subindo até ser diretor. Simples assim. Como a vida dele.

Durante os grupos-foco que fizemos, eu ficava sentada ao lado dele, admirada, ouvindo "procure a manteiga"; "encontre o couro". E cheirava, cheirava, e nada. Até encontrar as famosas frutas vermelhas foi um parto. Pronto. Decidi que eu precisava estudar aquilo direito, senão nunca ia conseguir compreender como funcionam a mente e o coração de um cliente do Alex.

O projeto do vinho chegou ao fim, mas o retrogosto permaneceu. Continuei a estudar ali, aqui e fui percebendo que, mesmo tendo rinite alérgica, eu podia perceber milhares de cheiros que antes não conhecia. E comecei a cheirar tudo, de maneira que hoje quando estou na sala sei que alguém no quarto mexeu na coleira do cachorro, que tem o cheiro do xampu dele, que por sua vez tem cheiro de alfavaca. Passei a prestar atenção ao cheiro das ruas de BH em setembro, que se parece um pouco com o cheiro das avenidas de Brasília quando começa a seca, mas é infinitamente melhor. Eu sei que parece estranho, mas não pare de ler, por favor. Parece que a gente descobre outro mundo quando se concentra no cheiro e no gosto.

Foi por isso que eu resolvi me dar de presente este curso. Não tenho pretensão nenhuma com ele, só acho que esse negócio é bonito demais e eu mereço. Saio de lá todos os dias com os olhos brilhando.

Temos assistido vídeos com depoimentos de produtores de vinho da Europa, e foi aí que eu descobri que o enochato deve ser originário das Américas. Porque, como o Alex, produtores dos vinhos mais espetaculares do mundo são pessoas incrivelmente simples e sábias. Hoje por exemplo vi um moço da Alsácia, de jeans, camiseta surrada, barba por fazer, dizendo que o vinho é a forma mais cultural de exprimir a natureza de um lugar. Por isso a maioria dos vinhos europeus têm nomes de regiões: Rioja, Cotes du Rhone, Champagne... O moço dizia também o seguinte: São Bento foi o fundador da viticultura. Ele pregava o silêncio, a renúncia, a abstinência, típicas da vida dos monges, e associou a isso o cultivo das uvas. Hoje vemos que os melhores vinhos do mundo são aqueles produzidos por videiras cujas raízes são mais profundas. O moço da Alsácia dizia ainda que é preciso que a videira atravesse metros de cascalho para atingir o máximo de profundidade, porque na superfície tudo é instável e muda ao sabor do vento: um dia chove, no outro faz sol, venta... e a árvore, para produzir bom fruto, não tem que olhar para o céu, mas encontrar a tranquilidade e a paz das profundezas. Eles respeitam a terra, a planta, falam da uva como se fosse gente.

Nesses anos de curiosidade sobre vinhos, nunca vi alguém no continente Americano ser tão simples e tão profundo. Não sei se é por causa desse diacho dessa mania que a gente tem de achar que tudo que é da Europa é chique... por aqui vinho está virando símbolo de arrogância, de uma enochatice sem tamanho. Eu mesmo já fiz foi chuva de vinho sacudindo minhas taças perto do pessoal da minha casa... E você já reparou que os vinhos do novo mundo não têm o nome da terra? Aqui se batizam com o nome da uva... europeia, naturalmente. Eu não sei o motivo.

Com esse hábito de ficarmos nos pavoneando com taças de vinho, estamos perdendo a oportunidade de admirar o espetáculo que é o essa relação de respeito e aprendizado entre homem e natureza. E graças a essa nossa mania de só valorizar o que vem do outro lado do Atlântico, só conseguimos pensar em Proseccos e Cavas e perdemos a oportunidade de ver nascer e crescer, na nossa terra, vinhos que a Europa, com seus tantos séculos de experiência, já está conhecendo e aprendendo a respeitar.
Um dia a gente aprende... ser simples é muito complicado. Escrever posts enxutos, mais complicado ainda.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Amei meu dia!

Eu ainda não sou mãe. Mas ando seriamente desconfiada dessa história de que a gente cria filho para o mundo, não é para a gente.

Nesta semana foi a festinha de aniversário da Isa. Claro que a mocinha estava ansiosa pela chegada da data, naturalmente. Mas a mãe, Silvinha, quase não dormia, os olhos brilhando, esperando a chegada do grande dia. Já faz uns três meses que ela só pensa nisso. Lista de convidados, look, salão. Já eu passei uma semana na cola da Silvinha pra me deixar produzir a boneca. Consegui, com muita insistência, licença pra fazer a maquiagem. Mas do cabelo ela não abriu mão.

Não posso deixar de assumir que ontem de manhã cedinho já estava tudo pronto em cima da cama: uma valise enorme com todas as possíveis cores de sombras, gloss e outras tretas, mais esmaltes variados e presilhas, para o caso de eu conseguir autorização para mais alguma produção.

Seis em ponto já estava lá, armas em punho para o makeup. Pincéis, sombras, gloss... ah, foi tão rápido... vinte minutinhos e pronto, a princesinha já estava vestida e linda, esperando pacientemente a mãe entrar e sair em duzentos modelitos diferentes... como se, com a Isa reluzente no seu vestidinho lilás com bolas, alguém fosse sequer notar a presença da gente.

Sorte que a Isa também se divertiu com a festa. Silvinha e Leozito estavam em êxtase. Deve ter sido o melhor dia da vida dos dois. Em absoluto segredo, compartilhado apenas comigo e a mãe, a aniversariante registrou em seu novo diário, com chave e caixinha de música: "Amei meu dia". Nós também, Isete... e obrigada pela gentileza em deixar esses pobres marmanjos achando que eles fazem a sua alegria, e não o contrário.

(Em tempo: os créditos da foto deste lindo pezinho não pertencem a Isa Bueno. A cinderela é na verdade Helena, amor da vida de Moniquinha, deliciosamente experimentando o presentinho da tia Vick. Legenda da mãe, encantada: "Existe coisa mais criança?". Tô dizendo...)

domingo, 7 de março de 2010

Sobre amor e tapioca


Nesta semana, minha irmã pediu que ensinasse a ela como fazer tapioca. Comida tão simples, sem glúten (oba!), cheia de sabor e que tem o condão de reunir todo mundo na cozinha, preferentemente com latinhas de cerveja estalando de geladas.

Pois bem: um pouco de polvilho doce... quanto? Ai, não sei, um pouco... tipo um punhado por pessoa. Um pouquinho de sal, e aí vem a arte: dosar a água.

Para quem não tem hábito de fazer tapioca: esta pequena delícia do nordeste se faz apenas com polvilho e água; algumas pessoas temperam. E só. Você mistura, depois passa pela peneira e coloca na frigideira, recheando com o que quiser.

Pois é. Acontece que, se a água é muita, o polvilho vira uma pasta grudenta. Por outro lado, se é pouca, quando a "massa" vai à frigideira, volta a virar pó.

Afinal de contas, quanta água se deve colocar na tapioca? Eu não sei. Confesso que tapioca, para mim, é uma das comidas mais simples e temperamentais que há. Mais ou menos como o amor.

Os ingredientes são poucos, simples e clássicos, não tem como errar. Mas vai saber a combinação certa... nesta semana, fiz três vezes. Uma tentativa deu absolutamente certo (no dia em que ensinei à Val, graças a Deus), mas a segunda foi um fiasco. A terceira foi consertando a "massa" da Val. Estou falando de tapioca!!!!

Sim, sim, pode-se consertar. Amor e tapioca. Água demais? Mais polvilho. Água de menos? Umas gotas a mais. Um tantinho de suspense e a frigideira mostra o resultado.

Mas, na minha opinião, o mais fascinante, tanto do amor quanto da tapioca, não é esse resultado. É todo aquele processo de convivência, de escolha, temperado com as borboletas no estômago. Se você passa o processo todo querendo que acabe logo para saber se deu certo, pronto: a fome costuma ir-se logo nas primeiras mordidas, lavam-se as panelas e acabou-se. Mas e aquela cervejinha do começo do post? E a conversa?

Pois é, pra que a pressa...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Valores


Eu jurei a mim mesma que ia tentar ser menos chata e postar quantidades semelhantes de chilis e chocolates. Mas não posso deixar passar esta.

Hoje, no Estado de Minas, na segunda página, um leitor comenta: enquanto as assinaturas de apoio ao projeto "Ficha Limpa", que suspende das eleições candidatos que cometeram crimes sérios como desvio de verbas públicas e corrupção, ainda não superou 1,6 milhões de assinatura, ontem houve mais de setenta milhões de votos no paredão do Big Brother.

Sem novos comentários. Para assinar a petição do Ficha Limpa, basta acessar http://www.avaaz.org/po/brasil_ficha_limpa/?cl=492836655&v=5509 . É um minutinho só.

O charme dos chatos



"Ah, todo chato é bonzinho/Nunca nos faz nenhum mal/Ah, todo chato é calminho/Como se faltasse sal" Oswaldo Montenegro


Discordo frontalmente. Se tem uma coisa que eu não acho é que todo chato é calminho. Nem bonzinho. E menos ainda que lhe falte sal.

Na verdade eu acho mesmo é que o mundo só gira por causa dos chatos. Imagine se não houvesse ninguém pra achar defeito nas coisas, pra tirar as pessoas da zona de conforto, pra querer fazer diferente. Se não houvesse alguém pra dizer "tá ruim", "tá um tédio", "precisa mudar"...

Ah, esse é o meu tipo de chato. Ontem mesmo estava trocando umas ideias com uma figura que conheci há uns três anos. Tinha um letreiro de neon piscando na cabeça: CHATOOOOOOOOO! Nervosinho, pavio curto mesmo, questionador, cricri... Batata: adorei. Começamos a trabalhar juntos em alguns, juntamos as chatices, foi uma felicidade só.

Hoje a menina dos meus olhos é um projeto dele. Não sai uma vírgula em que ele não tenha mexido, que não tenha questionado ou palpitado. Tenho que confessar que, na hora, dá vontade de pinçar a sobrancelha dele... mas cinco minutos depois já estou morrendo de amores de novo. Eu "góstio"! E tanto questionamos, vamos e voltamos no "durante" que o final sempre parece ensaiado. Aï é aquela rasgação de seda, um fala que o outro foi o responsável por ter dado certo, depois voltamos à resmungação. Tudo perfeito.

Pena é que no Brasil a gente não gosta muito de chato. Pense bem: toda turma tem aquele sujeito que vai lá no balcão da companhia aérea saber o motivo do atraso, que chama o garçom pra reclamar que a coxinha tá encharcada, que liga pra ouvidoria do banco. Ai, como esse cara é desagradável! Estava tudo tão tranquilo e ele aparece pra criar confusão.

Ou será que na verdade estava tudo um marasmo, ou um conformismo, ou uma mediocridade, e o chato apareceu pra dar o grito e tentar melhorar?

"Sou um chato, meu Deus, não me aguento, só me tacando no mar..."