Tem um comercial da Rede Globo Minas no ar, com uma música do Pato Fu que se chama simplicidade. É uma delícia, dá até pra sentir o cheiro do fogão de lenha quando a gente escuta.Tem uma parte que diz assim: "Café tá quente no fogo/Barriga não tá vazia/Quanto mais simplicidade/Melhor o nascer do dia".
Domingo passado eu descobri um buraco na minha vida espiritual. E dizem que, quando você descobre que precisa mudar algo e toma a decisão, o universo conspira a favor. Naturalmente, na segunda a Sil mandou um email convidando pra fazer pão na Magui.
Acabo de voltar de lá e só posso dizer que nenhuma experiência gastronômica se iguala a um tabletinho de fleischmann, uma colher de açúcar mascavo, três xícaras de farinha, uma de água e uma pitada de sal. De tantas frases e momentos que me tocaram ao longo do dia, não vou esquecer a Magui dizendo que o pão é a união dos quatro elementos: a terra, no trigo, o ar, no fermento, o fogo, no calor do forno, e a água.
Que coisa maravilhosa é ter essas fadas em Minas, que, em um sítio em Moeda, ou nas centenas de cozinhas das casinhas pelo interior do Estado, abrem suas casas e preparam uma alquimia inacreditável, transformando farinha, ou feijão, ou quiabo, ou banha de porco, e principalmente almas, em ouro.
Não é chique, não é sofisticado, é simplérrimo. Mas pode ser dificílimo. A Magui dizia hoje que, quando fazia o pão durante a semana, às duas da tarde, e as pessoas vinham do trabalho, ele não crescia. A mesma matéria, diferente energia.
Voltando a BH, fui compartilhar com minha mãe a vivência e as emoções do dia, e ela disse sabiamente: dom que não se compartilha se perde.
Talvez o ingrediente mais rico do paladar deste pão e de todas as iguarias que sempre enfeitiçaram a nós, mineiros, nas casas de nossas avós, mães e tias, seja esse dom, essa energia da partilha, que faz crescer qualquer pão mesmo em dia de chuva.
Hoje o pão cresceu. Gerou vivências, depoimentos lindos, conversas, e principalmente plantou sementes. A ordem é comer durante sete dias, mas eu acho que minha alma terá pão, no mínimo, para o ano todo. Naturalmente, se eu conseguir ter a sabedoria de conservá-lo.
Deo Gratias
Seus textos são simples e lindos como a música do Pato Fu, comoum pão e uma oração
ResponderExcluirGanhei a semana, amiga. Quando cheguei à Praça ontem a Fernanda estava cantando exatamente essa música. Lembrei de vc na hora. Beijos e obrigada!
ResponderExcluirMinha linda flor! "Venho de ler" seu blog...
ResponderExcluirAcabei de devorar meia barra de de um Lindt milk extra fine (Uhuuu!), terminei ontem com uma pequena garrafa de vinho e comprei mais duas, e senti falta de pimenta no frango da Lourdes. Num tô entendendo nada... SErá que a gente é
parente, ou se conhece há mais tempo?
Ah! me esqueci de contar: comprei há pouco uma máquina de fazer pão, para lembrar minhas origens: vivi uma boa parte de minha infância, em meio a padeiros, forno de lenha (enooorme), pacotes de fermento fleishmann e sacos e sacos de farinha...
Que coisa, não? (Dei a máquina pra minha irmã - é muito sofisticada para
mim)
Bjim. Tialoísa.
Tia, sabe que eu andei pensando... talvez a gente seja parente, ou talvez você tenha sido a primeira pessoa que me ensinou como se fazia pra falar com a Rainha láááááaá do outro lado do mar do Espírito Santo, ou talvez seja para mim uma referência de força e inteligência e alvo de uma imensa admiração e orgulho. Mas isso são apenas conjecturas, vai saber...
ResponderExcluirPimenta, chocolate, pão, vinho... hum, tô achando que faz muito tempo que a gente não se encontra - fisicamente -, precisamos dar um jeito nisso.