domingo, 5 de junho de 2011

Sobre Amor e Panos de Chão

Eles seriam o casal perfeito. Mais de 40 anos juntos. Os dois setentões, os dois gostam de dançar, os dois adoram um programa fora de casa, os dois adoram receber a família e os amigos.

Gostam dos mesmos gêneros musicais, compartilham preferências literárias, dividem responsabilidades religiosas. É claro que, de tempos em tempos, se arranham. Mas sempre equacionam.

Tudo isso seria maravilhoso, quase perfeito, como eu disse, se não fossem os panos de chão. Sim, os panos de chão. Ela deu para ter ciúmes deles.

Com um trapinho nas mãos, estremeço ao ouvir "o que você está fazendo com este pano aí?". Ixe, pano errado, dez minutos de bronca.

Mexer nos panos de chão tornou-se um negócio arriscado. É preciso memória, é precíso perícia, pois um descuido e zás. Trapo incorreto.

Mas o amor é sábio. Na visita seguinte, tensa por ter derramado qualquer coisa e paralisada de medo de escolher o famigerado trapo errado, ouço um sussurro do marido apaixonado: "psiu, psiu, venha ver! Pode pegar qualquer um desses... eu agora tenho meus próprios panos de chão.".

A paz volta a reinar... O amor é lindo, e mantê-lo aceso às vezes custa bem pouco. Uns cinco ou seis sacos de linhagem.